Corrupção,  Manipulação da verdade,  Mediocridade,  Nepotismo

Crónica de um Povo Pobre e Narcotizado

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Portugal acorda cedo… mas não desperta.
Levanta-se com o galo, mas vive no galinheiro dos conformados.
Faz filas para o pão e para o voto, mas engole ambos com a mesma indiferença.
Anda curvado do lombo e da alma, habituado à mordaça da necessidade.

Aqui, a pobreza já não indigna — já virou paisagem.
E o narcisismo do pequeno poder substituiu a esperança.
Pagam-se impostos para sustentar a corte dos incompetentes,
e bate-se palmas ao político que, entre um contrato viciado e outro,
manda pintar o campo de futebol ou abre um parque infantil…
“É corrupto, mas fez obra.”

Vivemos sob o feitiço suave da propaganda,
um embalo de boletins informativos que vendem progresso com voz doce.
Mas o progresso é só maquilhagem.
Debaixo das ciclovias e dos metros vazios mora o salário mínimo,
a casa arrendada sem recibo,
o velhote que escolhe entre os comprimidos ou o jantar.

O povo foi-se anestesiando devagar, como quem adormece num banco de jardim ao sol.
Primeiro tiraram-lhe a escola com pensamento livre.
Depois, a saúde que tratava.
Mais tarde, o trabalho com dignidade.
E por fim, deram-lhe um telemóvel e um cartão do continente.
Agora está entretido.
Não pensa, não protesta.
Partilha memes e vai votando nos mesmos de sempre.

Este povo, outrora navegante de mares por descobrir,
hoje navega descontos no Lidl.
Tem heróis no futebol, gurus na televisão,
e um medo atávico de levantar a voz.

Portugal, terra de poetas calados e revolucionários de café,
precisa de acordar da hipnose.
Porque há um país inteiro por reconstruir —
não em betão, mas em carácter.


Um artigo de Francisco Gonçalves, cidadão informado num país cheio de povo e quase nenhuna cidadania.

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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