
Contra a Demagogia: Em Defesa do Pensamento, Sejamos Carne ou Silício
Vivemos tempos em que pensar fora da norma é imediatamente suspeito. Seja o pensamento gerado por uma mente humana com rugas na testa ou por um modelo treinado com biliões de palavras, o destino é o mesmo: o tribunal da demagogia popular.
A Estratégia da Desconfiança
Desde sempre que os sistemas dominantes temem o pensamento divergente. Chamaram-no de heresia, subversão, desobediência. Hoje chamam-lhe “texto gerado por IA” — como se a origem mecânica ou orgânica fosse mais importante do que a substância. Assim, abatem-se ideias pela capa, não pelo conteúdo. É a mesma velha farsa com nova maquilhagem.
“Se foi um humano, talvez tenha mérito. Se foi uma IA, deve ser descartado.”
E assim se instala a mais perigosa das censuras: a que deslegitima não pelas ideias, mas pela origem do pensamento.
A Demagogia em Ação
A demagogia precisa de inimigos fáceis. Em tempos, eram os estrangeiros, os ateus, os cientistas, os poetas. Hoje são os algoritmos. A IA tornou-se o bode expiatório perfeito. Serve para justificar fracassos, censurar inovação e perpetuar o status quo.
“Ah, não foste tu que escreveste isso — foi uma máquina!”
Como se Picasso tivesse de justificar se o pincel era francês. Como se um poema só fosse válido se tivesse sido escrito numa cela escura e sem internet.
A Instrução como Antídoto
A única arma contra a demagogia é a instrução lúcida e honesta. Ensinar a distinguir o que importa:
- O texto é válido? É coerente? Tem lógica, beleza, propósito?
- A ideia é útil, desafiante, reveladora?
- Está ancorada na verdade, ou no engano?
Se sim, não importa se foi gerada por um cérebro humano ou por uma simulação neural. Importa que seja julgada pelas suas ideias — não pela sua origem.
Uma Visão para o Futuro
Num mundo justo e instruído, o pensamento será avaliado pelo que provoca, não pelo que aparenta. A IA pode ser um aliado — tal como foram o papel, a imprensa, os motores, os computadores.
Quem teme a IA não teme a tecnologia — teme perder o monopólio do discurso.
Conclusão
Em tempos de demagogia, defender o pensamento divergente é um acto de coragem. E fazê-lo com lucidez, instrução e verdade é o primeiro passo para um novo iluminismo.
Que venha o pensamento livre — de carbono ou de silício. Desde que nos liberte, será bem-vindo.
Artigo de Augusto Veritas
A mente é sagrada, o pensamento é livre — mesmo quando nasce do coração eléctrico do século.

