
Demolições em Loures: Quando o Estado Derruba Vidas
Por Francisco Gonçalves
Portugal, julho de 2025.
No concelho de Loures, barracas foram hoje demolidas. No seu interior, viviam pessoas. Trabalhadores. Seres humanos. Famílias inteiras que, apesar de cumprirem a rotina de quem contribui para o país, não conseguem pagar rendas. Porque os salários que recebem são mínimos, e os preços das casas são máximos. Porque o país virou mercado, e a dignidade humana virou rodapé de despacho camarário.
Deram-lhes 48 horas para saírem.
Como se saíssem de férias. Como se fosse fácil. Como se não fosse tudo o que tinham.
Não há metáfora suficiente para descrever a crueldade de um sistema que destrói a casa de quem pouco tem, em nome de uma “legalidade” que nunca protegeu os mais frágeis. Um sistema que constrói hotéis, resorts e condomínios de luxo com isenções fiscais, mas não consegue construir habitação pública com dignidade. Um país onde os pobres são despejados, enquanto os especuladores são celebrados.
Não foi apenas uma retroescavadora que entrou hoje em Loures.
Foi o silêncio cúmplice do poder.
Foi o fracasso da política habitacional.
Foi a mão de ferro de um Estado que, quando devia proteger, castiga.
Foi o abandono tornado norma.
Essas pessoas não vivem em barracas por gosto.
Vivem lá porque o mercado imobiliário é um casino viciado, porque os salários não chegam, porque o Estado falhou.
E o que se faz com quem foi abandonado?
Expulsa-se. Derruba-se. Varre-se para debaixo do tapete da civilidade.
O problema não são as barracas.
O problema é a ausência de soluções.
O problema é o conforto dos governantes, das câmaras, dos tecnocratas, que nunca conheceram o desespero de não ter onde viver com os filhos.
Hoje, o concelho de Loures perdeu mais do que construções ilegais.
Perdeu um pedaço da sua humanidade.

