Corrupção,  Nepotismo,  Sátira Política

“De Mão à Frente a Carteira Atrás: Crónica de um Milagre Político à Portuguesa”

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Em Portugal, o verdadeiro milagre não é de Fátima, é fiscal.
O cidadão entra na política com uma mão à frente e outra atrás — e dez anos depois tem um condomínio no Estoril, um Tesla à porta e um apartamento em Paris “em nome de um primo da Moldávia”.
Não há fenómeno económico que explique tamanha multiplicação de património. Nem Warren Buffett, nem Marx, nem mesmo Santo António, com toda a sua fama de milagreiro, conseguiria tamanha façanha.

A então juíza Maria José Morgado já nos avisava há década e meia, com ar de quem já vira muito rato a fugir pela porta do Ministério:

“Entram pobres e saem milionários.”

Ora bem. É caso para perguntar:
Que curso é esse? Onde se inscreve? Dá equivalência a mestrado? Ou é só preciso ser bem-falante, ter amigos no partido e um cofre em casa com espaço para envelopes gordos?

O povo, esse, continua com o cinto tão apertado que já só respira por telepatia.
Pagamos impostos como se vivêssemos na Suécia, mas com serviços públicos dignos da Etiópia de 1983.
A saúde espera meses.
A justiça tarda.
A educação anda em greve.
Mas os gabinetes ministeriais têm ar condicionado, café da Nespresso e contratos por ajuste direto com cláusulas que fariam corar um banqueiro suíço.

E se alguém se atreve a perguntar “como é possível este enriquecimento súbito?”,
a resposta é sempre a mesma: “Calúnia! Ataques à honra! É tudo legal!”
E pronto. De repente, quem questiona é o problema, não o esquema.

Enquanto isso, o país vai assistindo ao desfile:
um Sócrates aqui, um Relvas acolá, um Medina ao fundo e um autarca qualquer a meio caminho entre Dubai e os Rendeiros.
A diferença entre a prisão e o parlamento parece residir apenas na cor do cartão de acesso.

E nós?
Nós batemos palmas aos domingos no futebol, indignamo-nos nas redes sociais com filtros de indignação e depois, nas eleições, lá vamos votar nos mesmos, com esperança de que, desta vez, o lobo aprenda a pastar alface.

Senhores e senhoras, Portugal é hoje governado por um clube exclusivo onde o mérito se mede pela habilidade em não deixar rasto.
Chamam-lhe “vida pública”, mas deviam chamar-lhe “curso intensivo de enriquecimento sem vergonha”.

E como diz o velho ditado que ninguém disse, mas devia:

“Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte… ou é tolo ou ainda não chegou a ministro.”


Um artigo de Augustus Veritas

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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