Portugal Não Precisa de Mais Relatórios “Porter” — Precisa de Coragem e Acção

Volta a falar-se na encomenda de um novo “relatório estratégico” ao estilo do famoso Relatório Porter de 2004. Depois de duas décadas de diagnósticos ignorados e promessas não cumpridas, a classe política volta a alimentar a ilusão de que um documento vindo do exterior poderá resolver os bloqueios profundos que o país enfrenta. A verdade é dura, mas precisa de ser dita: Portugal não precisa de mais diagnósticos. Precisa de coragem. Precisa de ação.
O Relatório Porter, encomendado há 20 anos, era uma proposta séria, com visão estratégica e recomendações sensatas sobre produtividade, clusters económicos, inovação e reformas do Estado. Mas foi engavetado. Morreu por falta de vontade política, pela resistência dos interesses instalados e pela ausência de um plano de execução. Nada foi feito. Ou melhor: fez-se aquilo que é habitual — uma operação de cosmética política.
Agora fala-se num Porter 2.0. O contexto é outro, mas os vícios são os mesmos. Temos um regime político atolado em escândalos, com uma elite partidária que há muito perdeu credibilidade e que insiste em fingir que o problema é a falta de estudos. Não é. Os problemas estão identificados há décadas: produtividade anémica, empresas de baixo valor acrescentado, fiscalidade asfixiante, educação desadequada ao século XXI, justiça ineficaz, Estado ineficiente, sociedade civil marginalizada.
O que falta? Faltam líderes com espinha dorsal. Faltam pactos interpartidários. Falta ética na governação. Falta respeito pelos cidadãos e pelo futuro do país.
Portugal precisa de uma Agenda 2035 com metas concretas, prazos, monitorização independente e envolvimento real dos cidadãos e das universidades. Precisa de deixar de fingir que vai reformar quando, na prática, apenas recauchuta narrativas para adiar o essencial: quebrar o ciclo de mediocridade.
Mais relatórios pagos a peso de ouro servirão apenas para mais uma década de frustração. Pior: banalizam o conceito de planeamento estratégico e desacreditam qualquer iniciativa séria que ainda possa surgir.
O país precisa de visão, sim — mas acima de tudo precisa de vontade. De ruptura. De ação. E isso, lamento dizê-lo, não vem nos relatórios.
Leia aqui uma Agenda 2035 com metas concretas, prazos, monitorização independente :