Democracia e Sociedade
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Crónicas da Ilusão Nacional – Episódio XXI: A Televisão como Altares do Vazio
Por Francisco Gonçalves – fragmentoscaos.eu Vivemos tempos em que a televisão já não informa, não educa, não liberta. Limita-se a ocupar o espaço da consciência coletiva com ruído, como quem despeja areia nos olhos de um povo. Os canais públicos e privados tornaram-se púlpitos da mediocridade e instrumentos do adormecimento popular. Ontem, o país parou. Todos os canais – todos – renderam-se ao luto contínuo pela morte do Papa Francisco. O mesmo Papa que, apesar da sua postura progressista e humana, representava uma instituição arcaica, patriarcal e muitas vezes cúmplice com os grandes poderes. Durante 24 horas por dia, o ecrã transformou-se num altar. Repetições infinitas. Comentadores comovidos. Repórteres com…
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“Ao desconcerto do mundo” — Camões e a ironia de um tempo sem concerto
Luís de Camões, esse mestre de palavras e naufrágios, deixou-nos um soneto que, mais do que poesia, parece relatório sociológico de 2025: “Os bons vi sempre passar / No mundo graves tormentos; / E para mais me espantar, / Os maus vi sempre nadar / Em mar de contentamentos.” Parece escrito ontem, não parece? E com pena digital. Camões, com a sua pena de ferro e espírito de fogo, não se limitou a apontar o absurdo — ele viveu-o. Viu-se pobre, exilado, perseguido, e tudo isso com talento a mais e proteção a menos. Já os medíocres do seu tempo… nadavam em contentamentos. Nada de novo sob o sol, diria…
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O Primeiro-Ministro Desfila, o País Estagna
Luís Montenegro continua a governar como quem passeia num domingo de sol. Discursa, posa para a fotografia, caminha de peito feito por avenidas e praças como se nada de grave se passasse no país. É uma liderança de encenação, onde a imagem importa mais do que a substância, e onde os problemas reais dos portugueses parecem ficar sempre para segundo plano. O país continua atolado em dificuldades crónicas: os jovens emigrados ou desesperançados, a habitação inacessível, os salários indignos, os serviços públicos degradados, os idosos ao abandono, a justiça lenta, a corrupção difusa e a economia estagnada. Mas para o Primeiro-Ministro, tudo parece reduzido a uma coreografia institucional, com falas…
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O Filho Aprova, o Pai Lucra – A Promiscuidade como Norma
Crónica: O Filho Aprova, o Pai Lucra – A Promiscuidade como Norma Em Portugal, os escândalos políticos já não causam espanto. Vivemos num estado de anestesia cívica em que o incrível passou a ser rotina, e o inadmissível é tratado com normalidade burocrática. A mais recente mostra desse teatro da promiscuidade institucional envolve Pedro Nuno Santos, dirigente do Partido Socialista e ex-ministro das Infraestruturas. Veio a público que a empresa do seu pai celebrou contratos com o Estado durante o período em que Pedro Nuno Santos exercia funções governativas. Contratos esses que passaram por áreas sob sua tutela ou influência direta. Ora, a Lei n.º 52/2019, de 31 de julho,…
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O Reino Capturado – Pactum e o Colapso Ético de Portugal
Por Francisco Gonçalves – fragmentoscaos.eu Há muito que suspeitávamos. Hoje, confirma-se: Portugal não é apenas um país. É um sistema capturado.A Operação Pactum, com 43 arguidos — incluindo um diretor do Banco de Portugal e buscas a empresas como a MEO — é apenas mais uma página do grande livro negro da corrupção nacional. Carlos Moura, o nome que agora emerge, é o símbolo perfeito da podridão institucionalizada. Antigo quadro da Portugal Telecom, hoje sentado no topo tecnológico do Banco de Portugal — a entidade que deveria garantir a integridade do nosso sistema financeiro. Eis o retrato da promiscuidade: regulador e regulado são apenas dois lados do mesmo conluio. A…
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O Mundo à Deriva – Entre Trump, Putin e o Colapso da Ordem
Crónica: O Mundo à Deriva – Entre Trump, Putin e o Colapso da Ordem Vivemos tempos em que o absurdo se transformou em manual de instruções. Há livros a enaltecer as “técnicas de negociação” de Donald Trump como se o mundo precisasse de aprender com o bullying, a chantagem e a dissimulação. Como se a mentira fosse uma estratégia recomendável. Como se a agressividade fosse sinônimo de liderança. Trump e Putin são, sem margem para dúvidas, o que de pior nos caiu na sopa neste século. Um ególatra narcisista e um autocrata calculista, unidos pelo desprezo pelas instituições, pela manipulação das massas e pela corrosão da verdade. Tornaram o mundo…
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Crónica da Ilusão Nacional – Episódio XX: O Escândalo Infinito
Por Francisco Gonçalves, para fragmentoscaos.eu Mais um dia, mais um escândalo. Agora é Pedro Nuno Santos — líder do Partido Socialista, herdeiro do trono do Largo do Rato, paladino das causas populares — a cair na teia das investigações criminais. Suspeitas, negócios nebulosos, favorecimentos. Os contornos ainda são opacos, mas o enredo é familiar. Portugal já viu este filme. Muitas vezes. Antes foi Sócrates. Depois Galamba. Depois Costa. Montenegro também não escapa, envolvido com as suas contas bancárias mal declaradas e as ligações dúbias da sua empresa. A lista é longa, transversal e nauseante. Portugal tornou-se um pântano onde os principais líderes dos dois partidos dominantes estão afundados até ao…
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O Estado do SNS em Portugal: Entre o Orgulho Nacional e a Realidade Difícil
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é, para muitos portugueses, um dos maiores orgulhos do Estado Social. Criado com a missão de garantir acesso universal, gratuito e equitativo à saúde, o SNS representa um pilar fundamental da democracia e da justiça social em Portugal. Contudo, quem utiliza os serviços públicos de saúde sabe que entre o ideal e a prática existe um fosso que tem vindo a aumentar. Realidade nos Hospitais e Centros de Saúde Longas horas de espera, falta de profissionais, instalações degradadas, equipamentos obsoletos e comunicação ineficiente são apenas alguns dos problemas que os utentes enfrentam diariamente. Muitos têm experiências traumáticas nos serviços de urgência, onde a espera…
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O Teatro dos Partidos e o Silêncio do Povo
O Teatro dos Partidos e o Silêncio do Povo Entre palcos de promessas e bastidores de interesses, o povo continua fora da peça. A democracia representativa em Portugal tornou-se uma farsa repetida — um teatro em que os atores principais mudam, mas o guião permanece. O cidadão vota, espera e assiste.O partido promete, governa e esquece. Este sistema, baseado em máquinas partidárias, transformou a vontade popular num mero número de urna, domesticado e previsível. Download do livro em PDF Este artigo faz parte do projecto Fragmentos do Caos, onde o pensamento ainda resiste à superficialidade dominante.Lê mais em fragmentoscaos.eu Visita a Biblioteca de Fragmentos
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Portugal à Beira de Si Mesmo: Os Jovens e o Desafio de Recomeçar
Há um silêncio estranho que paira sobre Portugal. Não é o silêncio da ditadura, feito de medo e censura. É um silêncio mais insidioso, feito de conformismo, de promessas adiadas, de vozes que se habituaram a não ser ouvidas. E é neste país entre o passado que pesa e o futuro que tarda, que os jovens se encontram — muitas vezes perdidos, tantas vezes ignorados. Portugal é um país envelhecido, literal e metaforicamente. Envelhecido nos rostos, nas políticas, nas instituições. Envelhecido na forma como olha os seus jovens: como apêndices, como números nas estatísticas da emigração, como força de trabalho descartável. Estudam, investem, sonham — mas encontram à porta do…