Democracia Directa
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Introdução ao livro “O Teatro dos Partidos”
Prefácio Este livro não foi escrito para agradar.Foi escrito para acordar. O Teatro dos Partidos é uma reflexão urgente sobre o estado da democracia representativa, onde os cidadãos votam, mas raramente decidem.É uma crítica ao sistema onde a pluralidade prometida se dissolve num ritual cíclico de promessas, escândalos e alianças calculadas. Não trago soluções fechadas. Trago perguntas abertas.Não aponto culpados individuais. Aponto a engrenagem que os reproduz. Se estas páginas forem desconfortáveis, então cumprem o seu papel: o de provocar pensamento — e, quem sabe, ação. Francisco Gonçalves Vivemos tempos de máscaras, de aplausos forçados e de encenações políticas cada vez mais óbvias. O que se apresenta como democracia já…
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Portugal – O Mercado dos Votos: Subvenções Estatais e o Vício dos Partidos
O Mercado dos Votos: Subvenções Estatais e o Vício dos Partidos Num país onde o povo ainda luta por dignidade, onde os salários roçam a sobrevivência e a juventude emigra de sonhos na mala, há uma casta que floresce sem risco, sem suor e sem mérito: os partidos políticos. Sim, os partidos — esses clubes fechados de gestão de poder — recebem milhões de euros por ano, pagos com o sangue fiscal de cada cidadão. Porquê? Porque alguém, algures num parlamento de interesses, decidiu que cada voto devia ser convertido em dinheiro público. Em Portugal, por cada voto conquistado numa eleição legislativa, um partido recebe cerca de 3,48 euros por…
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Injustiça Fiscal: Quando o Estado Cobra Mais a Quem Menos Tem
Num país onde o discurso oficial proclama a justiça social como bandeira, os dados dizem o contrário. O valor cobrado em IRS pelo Estado aos trabalhadores mais pobres quase triplicou na última década. Em 2012, o Estado arrecadou 282 milhões de euros em IRS junto dos contribuintes que ganham menos de 13.500 euros brutos por ano (cerca de 964 euros por mês). Em 2022, esse valor subiu para 826 milhões de euros — um aumento de 193%. Não foi por as taxas terem aumentado. Foi porque o número de trabalhadores pobres aumentou. Porque a precariedade cresceu. Porque os salários estagnaram. Porque o trabalho em Portugal deixou de ser sinónimo de…
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O Desprezo de Cima e o Clamor de Baixo
“O Desprezo de Cima e o Clamor de Baixo”, a propósito de artigo publicado no “O Expresso”, por Miguel Sousa Tavares. Vivemos num país onde pensar já é revolta, e agora — pelos vistos — votar diferente é traição à democracia. Miguel Sousa Tavares, um dos nomes mais celebrados da nossa intelligentsia mediática, declarou que os eleitores do Chega “não são recuperáveis para o espaço democrático”. Está dito. Com pompa e convicção. Como se a democracia fosse um clube privado com dress code. Mas este tipo de frase não ilumina. Cega. E revela a cegueira de quem não quer entender as razões de um voto, mas apenas condená-lo moralmente. Quando…
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Portugal: Onde Pensar é Revolta, e a Corrupção é Cultura
Em Portugal, pensar tornou-se um ato de insubmissão. Quem questiona é logo visto como perturbador, quem propõe mudanças é tratado como lunático, quem insiste em sonhar com um país melhor é desdenhado como ingênuo. A sociedade civil está moribunda, afogada num mar de apatia, divisão e fatalismo. Cada um por si, todos contra todos. O “salve-se quem puder” substituiu a solidariedade, a esperteza é admirada, a inteligência marginalizada. Os partidos políticos, todos sem excepção, vivem à conta do erário público como príncipes de um regime feudal moderno. Câmaras municipais e empresas públicas e privadas alimentam-se da gordura do Estado, enquanto o contribuinte geme sob o peso de impostos, taxas, e…
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Portugal, Terra de Conformismo e Clubismo Político
Em pleno século XXI, quando o mundo clama por consciência e transformação, Portugal permanece adormecido sob o peso da resignação. O povo — sofrido, sim, mas também domesticado — aprendeu a vestir as cores dos partidos como se fossem camisolas de clubes de futebol. Não importa se o jogo é sujo, se o árbitro está comprado, ou se o estádio está a ruir: o importante é gritar pelo “nosso” lado, mesmo que nos leve ao abismo. O PS e o PSD — irmãos siameses na manutenção do status quo — revezam-se num jogo de espelhos. Prometem mundos, cumprem migalhas. E o povo, de quatro em quatro anos, lá vai às…
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The Decline of Democracy in the United States: Between Executive Orders and Autocratic Ambitions
The current political situation in the United States is causing deep concern among observers of democracy around the world. With Donald Trump back in the White House, the country’s governance has increasingly shifted toward a style marked by authoritarian gestures, impulsive executive orders, and disdain for constitutional checks and balances. In recent weeks, Trump’s administration has intensified the use of executive orders to dismantle fundamental institutions — such as the Department of Education — and impose policies with little or no congressional oversight. This strategy not only undermines the role of the legislative branch but also trivializes the public debate necessary in a democratic society. More troubling is Trump’s recent…
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A Extinção Lenta da Democracia Americana: Quando o Silêncio É a Maior Ameaça
Num tempo em que a democracia se vê desafiada por forças internas e externas, os Estados Unidos da América — outrora o farol das liberdades ocidentais — enfrentam um dos seus momentos mais críticos. A recente afirmação do Presidente Donald Trump, admitindo publicamente considerar um terceiro mandato presidencial, levanta sérias dúvidas quanto à robustez institucional do país. Mais do que uma provocação, trata-se de um sinal perigoso de erosão democrática em curso. Desde que regressou à Casa Branca, em janeiro de 2025, Trump tem governado por ordens executivas numa verdadeira avalanche autoritária: desmantelou departamentos inteiros, como o da Educação, flexibilizou regulações ambientais, impôs sanções de forma errática e hostilizou aliados…
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Fundações Privadas com Dinheiro Público: O Outro Rosto do Desperdício em Portugal
Num país onde se exige cada vez mais esforço aos cidadãos em nome da austeridade, da disciplina orçamental ou da sustentabilidade das contas públicas, é particularmente chocante constatar que existe um sistema paralelo de desvio indireto de recursos públicos: o universo das fundações privadas financiadas pelo Estado. O que são estas fundações? As fundações são, teoricamente, entidades de utilidade pública, sem fins lucrativos, criadas para promover atividades culturais, sociais, científicas ou educativas. Contudo, em Portugal, muitas delas nasceram por iniciativa de figuras políticas ou ex-governantes que, ao retirarem-se da vida pública, criam estas estruturas — frequentemente opacas — e rapidamente as fazem beneficiar de dinheiro dos contribuintes, sem escrutínio suficiente…
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PSD, Empresas Paralelas e a Névoa da Credibilidade
Nos últimos meses, Portugal tem sido confrontado com revelações inquietantes sobre a promiscuidade entre negócios privados e funções públicas no seio da liderança do Partido Social Democrata (PSD). Depois da polémica que envolveu Luís Montenegro e a empresa familiar Spinumviva, surge agora o nome de Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, ligado a uma empresa privada cuja atividade levanta suspeitas semelhantes. A Capítulo Universal, criada por Hugo Soares e sua esposa em 2020, dedica-se à consultoria e gestão de imóveis. Desde então, faturou quase 700 mil euros, atingindo o seu pico precisamente em 2024 — ano em que Soares assumiu a liderança parlamentar do partido. A coincidência temporal entre o…