
🇵🇹 O Povo Que Se Deixou Roubar de Olhos Abertos
Crónica satírica e trágica de uma nação em silêncio
Era uma vez um país pequeno, de mar bravo e coração cansado.
Um país que deu novos mundos ao mundo…
e hoje já não se dá sequer a si próprio.
Portugal.
Durante séculos aguentou tudo:
- Reis tolos,
- Ditadores com voz de padre,
- Banqueiros com mãos de padreiras,
- E políticos com cara de contribuinte.
Mas agora, no século XXI —
não é o estrangeiro que o invade.
Não é o Império que o fere.
É o próprio filho que o esvazia,
de dentro, com mestria, com leis, com PowerPoints.
🤐 O povo?
Assiste.
Olhos abertos.
TV ligada.
Bola a rolar.
Sabem que os políticos são corruptos.
Sabem que os tribunais protegem os seus.
Sabem que a escola está doente,
que a saúde tropeça,
que a justiça engasga…
Mas calam-se.
Porque “nada mudará”, dizem.
Porque “todos são iguais”, repetem.
Porque “se eu falar, não ganho nada”, concluem.
🧠 E assim se governa um país:
Com monstros sorridentes e cidadãos rendidos.
Com psicopatas no Parlamento e crentes no sofá.
Com justiça lenta, jornalistas domesticados,
e uma esquerda que escreve poesia na mesma tinta com que a direita assina contratos de destruição.
💀 E um dia, quando tudo estiver perdido…
Quando até o silêncio tiver sido vendido a crédito,
quando a TAP já voar para os paraísos fiscais,
quando os hospitais forem balcões de espera para a morte,
quando os filhos já não voltarem nem no Natal…
… então perguntarão:
“Mas como foi possível?”
E alguém, talvez um neto acordado, responderá:
“Porque foram roubados enquanto olhavam.
Mas não disseram nada.”
Francisco Gonçalves
Poeta da vergonha alheia, cronista da paciência que mata,
e voz dos que ainda não desistiram de acordar este país adormecido em perfume de mentira
Poema: O analfabeto político
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo […].
Bertold Brecht

