
🏛️ A Aristocracia dos Farsantes
O jogo viciado do mérito de aparência
“Vivemos numa aristocracia a fingir que é meritocracia.”
— Gary Stevenson
Esta frase devia estar inscrita em todas as salas de aula, em todos os ministérios da economia, e esculpida à entrada de todos os parlamentos da Europa.
Porque encerra numa linha a mentira fundadora do nosso tempo.
Vivemos num sistema que diz valorizar o esforço individual —
mas que premia a origem, o sobrenome, o colégio, o compadrio, a herança.
👨💼 Meritocracia? Só no PowerPoint.
A verdade é que a meritocracia, tal como a contam nos discursos, é uma fábula para pacificar os pobres.
Uma anestesia ideológica que diz:
“Se trabalhares muito, também lá chegas.”
Mas o que não dizem é:
- Que os lugares de topo já estão ocupados — por herdeiros.
- Que os concursos públicos têm donos antecipados — com nomes conhecidos.
- Que os currículos pouco valem, se não estiverem carimbados por padrinhos.
🧱 O caso de Gary Stevenson é exceção — e por isso é escândalo
Cresceu nos subúrbios de Londres.
Jogava à bola com esponjas gastas.
Gostava de números e fez caminho até ao Citibank.
Ganhou milhões apostando… contra a economia global.
E quando viu o mecanismo por dentro —
saiu.
Denunciou.
Escreveu.
Criou o canal “Gary Economics” e escreveu “O Jogo dos Milhões” como confissão, como alerta, como raiva em forma de número.
🩸 E em Portugal?
Por cá, raros são os que saem.
A maioria entra no sistema e agarra-se a ele com unhas, dentes e offshores.
Aqui, quem sobe tem de agradecer a alguém.
E quem questiona é posto de lado.
Não há Garys — há engrenagens humanas.
Funcionários da corrupção socialmente aceitável.
🧠 A grande mentira do nosso tempo
É que vivemos em liberdade, em democracia e em justiça.
Mas a realidade é que:
- Os ricos continuam a enriquecer — mesmo em crises.
- Os bancos lucram com falências.
- E os governos aplaudem “empreendedores” que são apenas filhos de alguém.
🔚 Conclusão: O mérito verdadeiro é sobreviver com dignidade
Gary Stevenson venceu o sistema — mas não para se tornar senhor dele.
Venceu para o denunciar.
E essa coragem é o que falta por cá.
Porque a verdadeira revolução começa quando o mérito se recusa a ser cúmplice da aparência.
E quando alguém com voz diz, sem medo:
“Isto tudo… é uma fraude de luxo com gravata.”
Francisco Gonçalves
Observador da aristocracia vestida de mérito — e cronista dos que ainda não se ajoelharam

