Democracia e Sociedade

Justiça à Portuguesa: Cega para os Ricos, Carrasca dos Pobres

“Neste país de brandos costumes, a justiça não dorme — apenas finge que não vê.”

Portugal é, há muito, palco de uma peça tragicómica onde a justiça é personagem secundária. Uma figura de toga pesada, olhar cansado, que se move devagar quando os figurões estão no palco… mas que corre, lesta e certeira, quando o réu é um pobre, um marginal, ou alguém sem nome para escrever no jornal.

Há quem diga que todos são maus. Pode ser. Mas há maus que vivem na penumbra da impunidade, e há outros que apodrecem nas celas frias porque roubaram um chocolate no Pingo Doce.

Os primeiros têm advogados que falam por eles, carros com vidros fumados e moradas onde a justiça só chega depois de avisar. Os segundos nem sempre têm sequer voz — têm só fome, ou desespero, ou o azar de ter nascido do lado errado do sistema.

Neste Portugal moderno, ver um poderoso sentar o rabo na cadeira dos arguidos é tão raro como ver neve em Faro. Os escândalos vêm, enchem telejornais, geram debates inflamados. Depois desaparecem, como fumo. Porque, como tu bem disseste: a justiça em Portugal não tarda… simplesmente não aparece.

Vivemos numa terra onde se prescreve tudo: dos crimes dos banqueiros às fraudes dos políticos, passando pelos pecados mortais dos senhores das construtoras, dos fundos europeus e das câmaras municipais. Prescreve-se tudo — menos o furto dos pobres, esses sim, condenados com celeridade e zelo.

Talvez um dia o povo acorde de vez. Talvez perceba que a balança da justiça está desafinada e que só a revolta lúcida — não a violência, mas o grito coletivo — pode forçar a mudança. Até lá, resta-nos escrever. E denunciar.

Porque a verdade, mesmo quando enterrada, é como semente teimosa:
acaba sempre por rebentar o chão.

Por Augustus Veritas

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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