Democracia Directa,  Democracia e Sociedade

Democracia Direta: O Medo dos Senhores do Poder

A democracia direta, em teoria, deveria ser o corolário natural de qualquer regime verdadeiramente democrático. Um sistema onde o povo, soberano por definição, tem voz ativa nas decisões estruturantes que moldam a sua vida coletiva. No entanto, na prática, a simples menção de democracia direta provoca arrepios nas espinhas dos que detêm o poder. E não são apenas os ditadores: também os democratas profissionais, os partidos instituídos, os comentadores permanentes e os gestores da opinião pública.

Porquê? Porque a democracia direta rompe com o círculo fechado da representação. Ela dispensa intermediários, expõe os bastidores do poder e obriga os decisores a ouvir o que preferiam ignorar. Pior: coloca o povo a decidir em vez de apenas escolher quem decide por ele. E isso é visto como uma afronta por um sistema que se sustenta na mediação, na opacidade e na concentração do poder.

Os partidos perdem centralidade. Os lóbis perdem influência. Os bastidores perdem eficácia. Os comentadores perdem autoridade. Os dirigentes perdem margem de manobra. Tudo o que sustenta a democracia representativa profissionalizada estremece diante da possibilidade de uma população esclarecida decidir por si.

Por isso se diz que a democracia direta é “perigosa”, “populista”, “caótica”. É o medo a falar mascarado de razoabilidade. Mas o verdadeiro medo não é o do caos — é o do fim do privilégio. Porque onde há democracia direta, há menos margem para manipulação, menos espaço para acordos de bastidores, menos oportunidades para enriquecer à sombra do voto.

A democracia direta não é perfeita. Nenhum sistema o é. Mas é infinitamente mais honesta. Mais responsável. Mais participativa. E, sobretudo, mais fiel ao princípio fundacional da democracia: o poder pertence ao povo.

Chegará o dia em que as sociedades, cansadas de serem espectadores, reclamarão o seu lugar no palco. E então, os senhores do poder terão de escolher: ou partilham o poder, ou verão o sistema ruir de dentro.

A democracia direta não é um perigo. É uma promessa ainda por cumprir.

Artigo da autoria de Augustus Veritas Lumen

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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