
Crónica da Ilusão Nacional – Episódio XX: O Escândalo Infinito
Por Francisco Gonçalves, para fragmentoscaos.eu
Mais um dia, mais um escândalo. Agora é Pedro Nuno Santos — líder do Partido Socialista, herdeiro do trono do Largo do Rato, paladino das causas populares — a cair na teia das investigações criminais. Suspeitas, negócios nebulosos, favorecimentos. Os contornos ainda são opacos, mas o enredo é familiar. Portugal já viu este filme. Muitas vezes.
Antes foi Sócrates. Depois Galamba. Depois Costa. Montenegro também não escapa, envolvido com as suas contas bancárias mal declaradas e as ligações dúbias da sua empresa. A lista é longa, transversal e nauseante. Portugal tornou-se um pântano onde os principais líderes dos dois partidos dominantes estão afundados até ao pescoço — e nada muda.
Investigam-se uns aos outros com o cuidado de quem varre a poeira para debaixo do tapete. O Ministério Público simula ação, os media amplificam o ruído — e tudo se dissolve em arquivamentos, esquecimentos ou prescrições. A corrupção em Portugal não é exceção — é sistema.
O povo já nem se indigna. Está anestesiado. Ou entretido. Ou emigrado.
Não há manifestações como na Islândia. Não há rupturas como no Chile. Não há reformas como na Estónia. Há um conformismo viscoso, cultivado por décadas de promessas falsas, lideranças ocas e uma justiça que persegue pequenos e protege os grandes.
A democracia portuguesa, tal como está, é uma farsa disfarçada de urna. Uma democracia onde todos votam, mas ninguém decide. Onde os partidos vivem do erário público e os negócios do Estado alimentam os mesmos grupos económicos de sempre.
Este novo escândalo não surpreende. Apenas confirma: não se trata de casos isolados, mas de um padrão sistémico. Um polvo com tentáculos em tudo o que é público: saúde, habitação, energia, transportes, banca, justiça, autarquias.
E o que resta?
Resta-nos escrever. Denunciar. Lembrar. Reunir os indignados. Cultivar a coragem. Resta-nos não esquecer.
Resta-nos construir, no meio dos escombros da ilusão nacional, um caminho novo — feito de ética, verdade e ação cívica real.
Porque se não formos nós, não virá ninguém.

