Democracia e Sociedade

O País que se Veste de Ouro com a Roupa do Pobre


Crónicas da Ilusão Nacional – Capítulo 1

O País que se Veste de Ouro com a Roupa do Pobre

Portugal é um pobre que sonha com Versace, um pequeno senhorio falido que insiste em dar festas no terraço. Vive entre ruínas douradas, convencido de que um bom discurso e um fundo europeu bastam para maquilhar a decadência. E enquanto os telhados caem, pendura-se uma bandeira lavada na janela — para que Bruxelas veja que somos um país asseado.

A cada crise — e já são tantas que perdemos a conta — Portugal responde com planos de resiliência, bazucas orçamentais, visões estratégicas para 2030, 2040 ou 2100. Mas no chão, onde a vida acontece, há filas para a sopa, professores em burnout, médicos em fuga e jovens a quem se promete futuro, desde que o procurem em Berlim ou Lausanne.

A última ilusão chega com fanfarra: 10 mil milhões de euros para apoiar exportações. Mas será isto visão ou apenas vertigem? Quem somos nós para prometer tanto, se o que temos não passa de dívida reciclada, economia subsidiada e esperança precarizada? O comissário europeu lança o aviso: “cautela, senhores… há défice, há dívida, há riscos”. Mas por cá, os ministros preferem sorrisos, comunicados e powerpoints com bandeiras.

A verdade? Portugal é como um mágico de feira: enquanto distrai com um coelho no chapéu, esconde que já não há pão para a marmita. Tudo em nome de uma dignidade artificial — um teatro nacional que representa a prosperidade com cenários de cartão.

O povo, esse, aplaude cansado ou vira a cara, descrente. Porque já viu este número antes. Já ouviu promessas com música de fundo e luzes em palco. Mas quando as luzes se apagam, fica só a voz do estômago a lembrar que o milagre ainda não chegou.

Portugal não precisa de mais milhões. Precisa de coragem para mudar o enredo.


Francisco Gonçalves

Créditos para IA e ChatGPT (c)

Imagem cortesia de OpenAI (c)

Este artigo é parte de um livro intitulado Cronicas da Ilusão Nacional, que brevemente publicarei neste blog :

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *