Europa e NATO: O Futuro da Defesa Europeia Perante a Ameaça de Retirada dos EUA

O cenário de segurança na Europa está a sofrer uma transformação radical. Com Donald Trump novamente na presidência dos Estados Unidos desde janeiro de 2025, o seu discurso sobre a NATO voltou a causar preocupação entre os aliados europeus. Trump ameaça reduzir ou até retirar o compromisso dos EUA com a defesa dos países que não aumentem significativamente os seus gastos militares. Esta postura tem acelerado o debate sobre a necessidade de uma defesa europeia mais autónoma, com a União Europeia a mobilizar cerca de 800 mil milhões de euros para reforçar as suas capacidades militares.
Mas será esta a oportunidade para a Europa se tornar uma potência militar independente? Ou, pelo contrário, estaremos a assistir ao início do colapso da Aliança Atlântica e a uma Europa mais vulnerável a ameaças externas?
Trump e a NATO: Uma Relação Conturbada
A relação de Donald Trump com a NATO sempre foi marcada por tensão e desconfiança. Desde o seu primeiro mandato, o presidente norte-americano insistiu que os países europeus deviam aumentar os seus gastos com defesa, argumentando que os EUA estavam a carregar o maior fardo financeiro da Aliança. Agora, no seu segundo mandato, Trump subiu o tom das ameaças:
“Se não pagarem o suficiente, não os vou defender.”
Este comentário alarmante levanta sérias dúvidas sobre o compromisso dos EUA com o Artigo 5.º da NATO, que estabelece que um ataque contra um membro da Aliança é um ataque contra todos. A possibilidade de Washington recusar ajudar aliados em caso de agressão é um golpe na confiança da Europa na NATO, especialmente num momento em que a guerra na Ucrânia continua e a Rússia mantém uma postura cada vez mais agressiva.
Trump chegou mesmo a sugerir que países que não atinjam os 2% do PIB em gastos militares podem ser deixados à mercê de ataques russos. Essa ideia, longe de ser apenas retórica política, pode ter sérias consequências para a estabilidade europeia.
A Resposta da Europa: O “Plano de Rearmamento” de 800 mil milhões de euros
Consciente da fragilidade da dependência da NATO, a União Europeia aprovou recentemente um plano ambicioso para reforçar a sua capacidade militar. O programa “Rearmar a Europa” prevê a mobilização de 800 mil milhões de euros, incluindo 150 mil milhões em empréstimos, para impulsionar a indústria de defesa europeia.
Entre os principais objetivos deste plano estão:
- Acelerar a produção de armamento europeu para reduzir a dependência dos EUA.
- Criar uma capacidade de resposta rápida, capaz de intervir sem depender das forças norte-americanas.
- Fortalecer a cooperação militar entre os Estados-membros para garantir maior coordenação e eficiência.
A França tem liderado os esforços para uma defesa europeia autónoma, enquanto a Alemanha, apesar de relutante no passado, está a aumentar significativamente os seus gastos militares. Portugal, por outro lado, ainda não atingiu a meta de 2% do PIB para a defesa, mas o Governo já se comprometeu a acelerar esse investimento.
Este plano pode marcar o primeiro passo para um exército europeu federado, onde a defesa do continente deixaria de ser uma responsabilidade nacional para passar a ser uma estratégia comum centralizada em Bruxelas.
Os Riscos de uma Europa sem os EUA
Se por um lado o reforço da defesa europeia é essencial, por outro, a ausência dos EUA deixaria a Europa em risco. Atualmente, as forças armadas norte-americanas são a espinha dorsal da NATO, garantindo superioridade aérea, logística e nuclear. Sem essa presença, a UE teria de:
- Reforçar rapidamente o seu arsenal nuclear, algo que apenas França possui na Europa.
- Desenvolver capacidades militares conjuntas, superando as dificuldades políticas e burocráticas entre os Estados-membros.
- Criar um comando central eficiente, capaz de tomar decisões rápidas em crises militares.
O maior desafio será superar as diferenças estratégicas entre países como a França, que deseja maior independência da NATO, e os países do Leste Europeu, como a Polónia e os países bálticos, que ainda veem os EUA como a única proteção eficaz contra a Rússia.
Cenários Possíveis para o Futuro da Defesa Europeia
Com base nos desenvolvimentos recentes, podemos vislumbrar três possíveis cenários para a segurança da Europa nos próximos anos:
1. Europa Assume a Liderança Militar (União de Defesa Europeia)
A UE avança com a criação de uma força militar comum, integrando capacidades e estratégias de defesa. A NATO continua a existir, mas a Europa torna-se menos dependente dos EUA. Este cenário exige um grande investimento em tecnologia militar e cooperação entre os Estados-membros.
2. Reforço da NATO Sem os EUA Como Protagonista
Caso Trump mantenha uma posição ambígua sobre a NATO, os países europeus podem tentar reformular a Aliança, tornando-a mais equilibrada. O Reino Unido e a França podem assumir papéis de liderança, mas sem a influência norte-americana, a NATO perderia a sua principal força dissuasora.
3. Enfraquecimento da NATO e Maior Vulnerabilidade Europeia
Se Trump retirar os EUA da NATO, a organização poderá entrar em colapso, deixando os países europeus sem uma estrutura de defesa coletiva eficaz. A Rússia, vendo uma Europa dividida e vulnerável, pode aproveitar essa oportunidade para reforçar a sua influência em antigos territórios soviéticos e aumentar a pressão sobre países como a Ucrânia e a Moldávia.
Conclusão: O Momento Decisivo para a Europa
A ameaça de Donald Trump de retirar o compromisso dos EUA com a NATO pode ser o ponto de viragem para a defesa europeia. A União Europeia precisa de agir rapidamente para garantir a sua segurança, investindo mais em defesa e reforçando a cooperação militar entre os seus membros.
O plano de 800 mil milhões de euros é um passo crucial nesse sentido, mas o verdadeiro desafio será transformar essa iniciativa numa estratégia de longo prazo que assegure a proteção do continente contra ameaças externas.
A questão que permanece é: será que a Europa está preparada para se defender sem os EUA? O tempo dirá.
Créditos para IA e chatGPT (c)