
📚 Portugal e os Livros: Uma Nação que Lê Pouco, mas Ainda Pode Acordar
Análise das duas últimas décadas e propostas concretas para um país mais leitor
Portugal nunca foi propriamente uma nação de leitores.
Mas nos últimos 20 anos, os números desenharam um ciclo de esperança e recuo, crescimento tímido e promessas por cumprir.
E hoje, apesar de alguns sinais positivos, a leitura continua a ser privilégio de poucos — e desinteresse de muitos.
📉 A realidade crua
- Durante anos, o mercado editorial esteve estagnado, com vendas entre os 11 e os 14 milhões de livros por ano.
- Mesmo em 2023, após sucessivos crescimentos, os portugueses compraram menos de 1,3 livros per capita/ano.
- A taxa real de leitura ronda os 35 % da população, com larga maioria a nunca ler livros ou a lê-los apenas por obrigação escolar.
🧱 Os obstáculos
- Falta de hábitos de leitura desde a infância
A leitura em Portugal ainda é vista como castigo, e não como prazer.
O sistema escolar foca-se na análise, e raramente na emoção da leitura. - Livros caros, salários baixos
Um romance custa €15–€20. O salário médio líquido ronda €1.000. Para muitas famílias, o livro é artigo de luxo. - Ebooks com penetração tímida
Enquanto em países como os EUA e Reino Unido os livros digitais representam até 20–30 % do mercado, em Portugal não chegam a 10 %. - Desinteresse estatal real
Tirando campanhas pontuais ou cheques-livro, o Estado raramente coloca o livro no centro da política cultural.
🧭 Como mudar este rumo? Soluções concretas
1. 📖 Criação de um Plano Nacional de Leitura com impacto real
- Colocar livros de qualidade em todas as escolas, lares e centros de dia.
- Substituir parte da análise literária por leitura livre acompanhada.
- Criar clubes de leitura escolares com incentivo à partilha e não à nota.
2. 💶 IVA zero para livros em papel e digitais
- Um gesto simbólico e fiscal que afirma: “O livro não é produto — é pilar.”
3. 💻 Plataforma digital pública de acesso gratuito a ebooks e audiolivros
- A Biblioteca Nacional Digital é subutilizada.
- Criar uma app moderna, intuitiva, com autores portugueses, clássicos e contemporâneos, acessível a todos os cidadãos com NIF.
4. 📚 Cartão “Leitor Frequente” com recompensas
- Cada compra de livro geraria pontos:
- para descontos;
- acesso gratuito a eventos culturais;
- entrada gratuita em museus.
- Ligar cultura à leitura — e esta a experiências reais.
5. 📢 Campanhas nacionais regulares com rostos jovens
- Porque a leitura também precisa de influência.
- Criar campanhas televisivas e digitais com autores, músicos, youtubers e cientistas a falarem do que leem e porquê.
6. 📚 Rede de Bibliotecas Comunitárias Pop-Up
- Carrinhas-livraria a circular por vilas, bairros periféricos, escolas em zonas desfavorecidas.
- Oficinas de leitura e escrita criativa.
- Uma cultura que vai ao encontro do leitor — e não o espera na capital.
🔚 Conclusão: Um país que lê é um país que pensa
E um país que pensa… não aceita ser enganado.
Não engole discursos vazios.
Não vota no que brilha, mas no que sustenta.
Não segue demagogos, mas procura referências.
Portugal precisa de livros como precisa de pão.
Mas sem fome intelectual, não há revolução cultural.
Ainda vamos a tempo.
Mas o tempo está a esgotar-se — página após página.
Francisco Gonçalves
Leitor, escritor e teimoso acreditador de que a palavra ainda pode salvar
Só um povo que lê é capaz de separar retórica de verdade, promessa de manipulação, carisma de carácter.
A leitura dá vocabulário, mas mais do que isso — dá memória, espírito crítico e visão histórica.
📚✊ Um país leitor será sempre mais difícil de enganar.
E mais cedo ou mais tarde, quem lê… escolhe mudar.

