
Oitante: O Navio-Fantasma da Banca
Em Portugal, onde até os escândalos têm horário de expediente e os buracos financeiros são património nacional, eis que surge a Oitante. Um nome que soa a perfume barato ou a embarcação de brinquedo — mas que, na realidade, é o veículo de resolução do saudoso Banif, esse Titanic financeiro insular que naufragou com bandeira portuguesa.
A Oitante não é uma empresa, é uma ideia — uma ideia de como mascarar perdas, prolongar o embuste e pagar ordenados a burocratas que dominam o Excel como o Tchaikovsky dominava o piano: com arte, precisão… e total desconexão com a realidade. Os seus relatórios são verdadeiros tratados de literatura kafkiana, onde se “gestiona” e “reestrutura” e “rentabiliza” — palavras mágicas para justificar que nada foi feito, mas muito foi cobrado.
A função da Oitante? Oficialmente, recuperar os créditos tóxicos e activos problemáticos do Banif. Na prática, funciona como um necrotério financeiro onde cadáveres de dívidas são embalsamados com jargão jurídico e onde se finge que um milhão incobrável vale algo, só porque foi “reestruturado em papel timbrado”.
“Na Oitante não se trabalha — contempla-se a falência com poesia, auditoria e powerpoints.” — Anónimo com contrato vitalício.
Como qualquer empresa gerida no vácuo da accountability nacional, a Oitante é opaca, lenta e persistentemente ineficiente. Os portugueses pagam, o Estado finge que fiscaliza, e os ex-quadro do Banif encontram ali um lar doce lar onde a responsabilidade morreu e foi enterrada com honras de Estado.
Publicado por Fragmentos do Caos — onde a sátira é o soro da lucidez democrática.

