
Crónica: O Milhão de Sócrates

Quando se julgava que o poço da vergonha política portuguesa não tinha mais fundo, eis que o nosso eterno protagonista da impunidade nacional volta a mergulhar, de tanga Armani e sorriso Colgate, nas águas turvas da suspeição. José Sócrates, esse ex-primeiro-ministro com um currículo mais recheado de escândalos do que de reformas, conseguiu a proeza de gastar mais de um milhão de euros em três anos. Bravo!
Entre jantares, viagens, mordomias, massagens talvez, ou apenas a eterna sede de grandeza alimentada com cartões mágicos, lá se foi, gota a gota, o dinheiro que muitos portugueses só veem em sonhos ou nos folhetos de promoções do Pingo Doce.
“Gastou mais de um milhão de euros e deixou de ter controlo sobre os gastos.” — Jornalismo português, a dar recados à realidade.
Mas não sejamos injustos. Afinal, como bem sabe qualquer bom entendedor de justiça à portuguesa, o senhor Sócrates é presumivelmente inocente… até que o processo prescreva. E no meio disto tudo, talvez a maior ironia seja esta: há quem ainda ache que ele é vítima. Vítima de quê? Da sua própria vaidade ou do país que o deixou prosperar?
Portugal, ó pátria de brandos costumes, onde se investiga devagarinho, se julga com moderação e se arquiva com elegância. Onde um milhão desaparece como quem espirra. Saúde!
— Augustus, cronista do absurdo lusitano

