
Evaristo, tens cá disto? – Crónica de um absurdo digital
Perguntava o Zé, de boné na testa e esperança no bolso, ao robô português recém-nascido.
O Evaristo, animado por fundos europeus e promessas ministeriais, piscava o olho — ou talvez fosse um bug.
Mas não, não tinha disto.
Não tinha GPT, nem LLaMA, nem DeepSeek.
Tinha PowerPoint, conferência de imprensa e selo de inovação nacional…
Traduzindo: uma ideia velha embrulhada numa fita nova.
O país inteiro sorriu.
“Somos os primeiros!” — exclamaram os entusiastas do faz-de-conta.
“Uma revolução digital!” — gritou alguém da plateia, antes de regressar ao Excel 2007.
A verdade é que Portugal não construiu um chatbot.
Construiu um altar à vaidade provinciana.
Porque por cá, a inovação é sempre um monumento ao atraso:
– Chega tarde,
– copia mal,
– e é celebrada como se fosse vanguarda.
E assim se gasta mais uma fatia do bolo europeu,
com pompa, circunstância e uma mascote animada que mal sabe conjugar verbos.
Evaristo, tens cá disto?
Tens, sim: o reflexo de um país que prefere parecer do que ser.
Que continua a dar os “primeiros passos”… no século XXI.
Enquanto o mundo já caminha em direção ao XXIII.
Mas pronto. Pelo menos, o boneco mexe-se.
Artigo satírico de Augustus Veritas Lumen

