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🎙️ Miguel Sousa Tavares e a Europa Genocida

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Quando o tiro certeiro é disparado com a arma virada ao contrário

Miguel Sousa Tavares não tem medo das palavras. Isso é bom. Num país de comentadores mornos e cronistas que escrevem como quem pede desculpa por existir, MST continua a disparar sem silenciador.

Mas às vezes, o disparo vai parar ao próprio pé.

Na sua mais recente entrevista — sempre em tom assertivo e com aquela eloquência meio napoleónica — Sousa Tavares acusou a União Europeia de estar a “apoiar o genocídio de Israel”, ao permitir e até legitimar, segundo ele, as ações do Irão e dos seus satélites contra o Estado hebraico.


🧠 A lucidez do grito

Há algo de meritório nas palavras de MST:

  • Exige coragem à diplomacia europeia, que muitas vezes se limita a emitir comunicados cor-de-rosa quando o mundo arde;
  • Reage à passividade da UE enquanto mísseis caem sobre Telavive e drones iranianos varrem bairros de Kyiv;
  • Lembra que a sobrevivência de Israel não é um detalhe — é um pilar da estabilidade no Médio Oriente e da memória histórica do século XX.

Até aqui, palmas.


🔍 Mas a lupa revela o desequilíbrio

O problema de Sousa Tavares não é a indignação — é a focalização seletiva.
Condenar a Europa por não defender Israel é legítimo.
Mas onde está a sua voz sobre o Hamas? O Hezbollah? O Irão?
Onde estão as suas palavras sobre o facto de Teerão fabricar drones que matam crianças ucranianas todos os dias?
Onde está a denúncia dos pogroms islamistas do dia 7 de outubro, filmados com orgulho pelos seus autores?

A resposta: ausente. Ou, no mínimo, envergonhadamente discreta.


🧭 O moralismo de um só olho

Sousa Tavares denuncia o silêncio europeu — mas pratica o seu próprio.
É como um juiz que bate na mesa, mas só para um dos lados da sala.
O seu discurso ressoa mais como uma batalha emocional do que como análise geopolítica séria. E isso, vindo de alguém com peso mediático, é perigoso. Porque molda a opinião pública… mas com moldes rachados.


📚 Se Hannah Arendt lesse Miguel Sousa Tavares…

… talvez o aconselhasse a lembrar que:

“O mal prospera quando os bons se recusam a pensar.”

Pensar exige amplitude. E amplitude exige coragem para denunciar todos os crimes, venham de onde vierem.
Israel tem direito à crítica. Mas também tem direito à defesa.
E a Europa tem deveres — mas não pode ser julgada por omitir, enquanto quem escreve omite tanto ou mais.


🧨 Conclusão

Sousa Tavares continua a ser uma voz necessária.
Mas, neste caso, é uma voz com o volume certo… mas com as frequências erradas.
Se a crítica é justa, que seja também justa com todos os atores.
Porque se só apontamos o dedo a quem nos convém, então já não somos comentadores. Somos parte da encenação.


Francisco Gonçalves
Escritor de ideias incómodas.
Amigo da lucidez e inimigo da omissão.


Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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