
Crónica: A Banca Roubou, o Povo Pagou – e Nada Aconteceu
Portugal, esse pequeno retângulo de alma grande, vive há décadas sob o jugo de uma farsa orquestrada por banqueiros de gravata e políticos de bolso cheio. Fala-se muito em crise, em resgates, em reformas estruturais. Mas a verdadeira crise foi – e continua a ser – de vergonha.
Na aurora da crise de 2008, os bancos portugueses estavam tecnicamente mortos. Mortos por má gestão, por fraudes encapotadas, por investimentos de casino. E quem os ressuscitou? Nós. O povo. Com impostos, cortes, sacrifícios. O Estado, esse mordomo obediente das elites, abriu os cofres públicos para salvar os criminosos de colarinho branco que afundaram o sistema financeiro. Nacionalizou prejuízos. Privatizou lucros. E ninguém foi preso.
O BPN foi entregue a um buraco sem fundo. O Banif desapareceu em névoa. O BES virou “Novo Banco”, mas as dívidas e as mentiras mantiveram-se velhas. Foram milhares de milhões dos contribuintes, canalizados como transfusão urgente para corpos apodrecidos.
E hoje, quando olhamos à nossa volta, o que vemos?
📈 Lucros astronómicos nos relatórios dos bancos.
💰 Bónus milionários distribuídos aos administradores.
💸 Taxas de juro esmagadoras que devoram a economia das famílias.
👥 Políticos a saltar de ministérios para administrações bancárias como quem muda de cadeira no café.
E o povo?
O povo engole em seco.
Paga a prestação da casa que duplicou.
Vê os salários a minguar.
As rendas a disparar.
A saúde a colapsar.
E as promessas? As promessas são as mesmas há 40 anos.
Só muda o teleponto.
A banca em Portugal comporta-se como um cartel. Foi formalmente condenada por conluio na fixação de spreads — um crime económico contra milhões de portugueses. Mas as coimas? Ainda por pagar. Os recursos judiciais eternizam-se. A justiça arrasta-se como um velho cão acorrentado. Quando morde, já ninguém está lá.
Vivemos num sistema onde roubar com uma arma dá cadeia, mas roubar com uma gravata dá uma fundação, um cargo europeu, ou um programa de comentário político ao domingo à noite.
Tudo isto aconteceu com José Sócrates a prometer o paraíso enquanto nos guiava para o abismo. E os que vieram depois? Nenhum ousou tocar nos bancos. Afinal, são os mesmos que lhes pagam os favores.
A banca em Portugal não é um setor. É uma casta. Um sistema imunizado. Um polvo de tentáculos invisíveis e bolsos fundos.
E nós, povo cansado mas ainda não vencido, vamos ficando.
Vamos pagando.
Vamos suportando.
Mas cada juro pago, cada corte no salário, cada promessa vazia, é um fósforo aceso numa palha seca.
Um dia, pode ser que arda.
E talvez então, essa elite imune sinta — finalmente — o tal chuto no rabo que merece há décadas.
Artigo da autoria de Augustus Veritas para o blogue Fragmentos do Caos
“Em Portugal, a banca roubou, o povo pagou — e nada aconteceu.
Nenhum banqueiro caiu, nenhuma fortuna foi devolvida, nenhuma justiça foi feita.
A democracia foi sequestrada por um cartel financeiro blindado por leis lentas e políticos serventuários.
Mas cada juro abusivo, cada corte imposto, cada silêncio cúmplice, é lenha num barril de indignação.
E um dia, pode ser que o povo acerte o chute que a História anda a ensaiar há décadas.”— Augustus Veritas

