
Cinquenta Anos Depois: A Desilusão de um Povo Traído
Francisco Gonçalves
Passaram-se cinquenta anos desde a alvorada de Abril. Cinquenta anos de promessas, bandeiras, discursos inflamados, cravos vermelhos e esperanças acesas. Mas hoje, à luz crua dos factos, resta-nos perguntar: foi para isto que se fez uma revolução?
Os resultados eleitorais mais recentes não são apenas números. São um grito de desilusão, uma resposta amarga de um povo que acordou, tarde demais, para perceber que os libertadores de ontem se tornaram os gestores do empobrecimento de hoje.
Da Liberdade Prometida à Sobrevivência Permitida
Fizeram-se constituições, eleições, governos e parlamentos. Mas o povo continuou pobre.
- Metade dos pensionistas vive com menos de 500 euros por mês.
- O salário médio mal ultrapassa os 900 euros brutos.
- Os jovens, mesmo com formação, fogem para países onde o trabalho é valorizado.
- As famílias vivem entre o crédito e o desespero.
- A classe média transformou-se em classe endividada.
As elites do regime: do sonho à negociata
Os que herdaram Abril deixaram-se seduzir pelo conforto do poder. Tornaram-se profissionais da política, acumuladores de cargos, facilitadores de negócios. A revolução que libertou o povo acabou capturada por uma elite que se libertou do povo.
Hoje, o país é governado por clãs partidários, onde a política é escada social e escudo judicial. Nada muda porque ninguém quer mudar nada.
A revolta silenciosa
Os resultados eleitorais mostram um país dividido entre o desespero e o cansaço:
- Abstenção crónica.
- Voto de protesto em partidos populistas.
- Descrença generalizada nas instituições.
O povo não acredita mais em quem fala em nome dele. E quando o povo não acredita, ou se cala… ou se revolta.
“Esta não é a democracia sonhada — é a farsa prolongada de uma república que esqueceu os seus.”
Cinquenta anos depois: e agora?
Portugal não precisa de mais campanhas publicitárias sobre liberdade. Precisa de política com dignidade. De representação verdadeira, de salários justos, de reformas decentes, de um Estado que respeite quem o sustenta.
Se a democracia representativa não se regenerar, morrerá aos poucos. E dela não restará senão a memória — e a revolta.
“Libertaram-nos das grades, mas acorrentaram-nos ao conformismo.”
Por : Francisco Gonçalves

