
Assinaturas para Jovens, Subsídios para os Fiéis
O governo de Luís Montenegro acaba de anunciar um programa que oferece aos jovens portugueses assinaturas gratuitas de jornais durante dois anos. À superfície, a medida parece nobre: um incentivo à literacia, à informação e ao envolvimento cívico das novas gerações. Mas quando se raspa o verniz do discurso oficial, emerge a verdadeira intenção: canalizar dinheiro público para manter viva uma imprensa falida — e fidelizada.
A maioria dos jornais nacionais enfrenta há anos uma crise estrutural: quebras de vendas, perda de credibilidade, dependência de publicidade estatal e alianças pouco disfarçadas com o poder político. De independência editorial resta pouco mais do que a aparência. Muitos destes órgãos tornaram-se megafones do regime, substituindo o jornalismo crítico por comentários domesticados e editoriais subservientes.
Neste contexto, o programa de assinaturas gratuitas para jovens não é um investimento na cultura democrática — é um subsídio encapotado à imprensa alinhada. Uma transfusão financeira disfarçada de política pública, que permite aos jornais continuar a sobreviver sem se reformarem, sem se reinventarem, sem se libertarem do condicionamento político-económico.
Mais grave ainda: insulta a inteligência dos jovens, tratando-os como recetores passivos de informação institucionalizada. Em vez de lhes garantir acesso a pensamento plural, a investigação independente e a novas formas de jornalismo digital e descentralizado, oferece-lhes papel impresso com odor a regime. Como se isso bastasse para formar cidadãos críticos num país saturado de propaganda.
O governo não quer formar leitores — quer alimentar aliados. E fá-lo com o dinheiro de todos, ao mesmo tempo que nega apoio a iniciativas editoriais verdadeiramente independentes, a jornalistas freelance, a coletivos digitais que ainda ousam fazer perguntas incómodas.
Portugal não precisa de mais papel subsidiado. Precisa de jornalismo livre, de cidadãos atentos e de governos que não confundam apoio cultural com apadrinhamento político.
Porque democracia sem imprensa livre não é democracia. É monólogo com aspeto de pluralismo.
E isso, os jovens já não engolem.
Por Francisco Gonçalves

