
O Apagão: O Primeiro Aviso
O apagão que mergulhou Portugal e parte da Europa nas trevas durante 15 horas não foi apenas um acidente técnico.
Foi um aviso brutal.
Um prenúncio silencioso da fragilidade extrema que corrói as bases do mundo moderno.
Em poucos minutos, a ilusão do controlo evaporou-se.
Sem luz, sem comunicações, sem transportes, sem água garantida, Portugal regressou ao estado de vulnerabilidade total — como se o século XXI tivesse sido apagado com um estalar de dedos.
As autoridades apressaram-se a negar ciberataques, fenómenos atmosféricos, negligência…
Tudo parece ser fruto do acaso, um simples “desarranjo técnico”.
Mas quem quiser ver para além da névoa percebe o que está em jogo:
O Estado moderno é uma máquina gigantesca mas frágil.
Basta um sopro bem dirigido — ou uma falha não corrigida — para que toda a fachada de estabilidade ruína como um castelo de cartas.
Mais grave ainda é a dependência absoluta em infraestruturas que ninguém controla verdadeiramente:
- Redes elétricas interligadas e vulneráveis,
- Sistemas de emergência incapazes de agir em cascata,
- Uma sociedade inteira à mercê de algoritmos, cabos e circuitos.
O que vimos não foi um acidente. Foi uma radiografia.
A imagem crua da nossa exposição.
O retrato de uma sociedade onde o poder real está fora do alcance dos cidadãos comuns.
Este apagão é, portanto, o primeiro aviso.
Um anúncio do que poderá ser o futuro próximo:
Blackouts. Racionamentos. Crises fabricadas. Estados de exceção permanentes.
Se não repensarmos o modelo de organização, se não reconstruirmos a resiliência comunitária e a autonomia local, não precisaremos de grandes catástrofes externas:
bastará a nossa própria fragilidade para nos destruir.
No meio da escuridão, ainda brilha uma pequena centelha:
A capacidade de resistir começa no ato de ver, pensar e não aceitar a mentira reconfortante.
As trevas adensam-se. Mas enquanto houver quem pense, nem todas as noites pertencerão à escuridão.
Francisco Gonçalves
(Fragmentos do Caos)

