Betão, Poder e Silênço: Montenegro no Centro da Neblina

A teia repete-se com uma precisão inquietante. O Departamento de Investigação e Ação Penal do Porto abriu um inquérito sobre a maior obra pública de Espinho. No centro da investigação está a ex-sociedade de advogados de Luís Montenegro, atual primeiro-ministro. Em causa, pareceres favoráveis a uma empresa de construção: a Alexandre Barbosa Borges (ABB). A mesma empresa que forneceu betão para a casa pessoal de Montenegro naquela cidade. Segundo a própria ABB, o fornecimento custou 37 mil euros.
Mais do que coincidências, há linhas de continuidade obscuras entre a política, os negócios e o betão. Os pareceres técnicos da sociedade de advogados, os contratos públicos de milhões, o fornecimento privado de material de construção — tudo aponta para uma promiscuidade institucional tão típica quanto corrosiva. E sempre com o mesmo aroma: o do favorecimento disfarçado de legalidade.
Em Portugal, o betão não é apenas um material de construção. É também uma máquina de poder, um canal de influência, um instrumento de financiamento político. Desde as autarquias às grandes empreitadas nacionais, o betão liga os interesses locais aos corredores do Estado. E quando um primeiro-ministro tem ligações diretas a quem lucra com essas obras, a transparência estremece, e a democracia empalidece.
Luís Montenegro não é, por enquanto, arguido. Mas a sua proximidade a um caso com contornos inquietantes exige muito mais do que silências institucionais ou declarações vagas sobre integridade. Exige explicações concretas. Exige escrutínio. Exige responsabilidade.
O caso da ABB, Espinho e a casa de Montenegro é apenas mais um espelho de um sistema onde quem está no topo parece viver numa bolha de impunidade. A justiça avança devagar, o povo observa em silêncio, e os protagonistas mantêm-se, intocáveis, no centro da neblina.
Portugal não pode continuar a aceitar este ciclo de suspeitas sem consequências. Não pode normalizar o cruzamento entre poder público e interesse privado como se fosse inevitável. Porque cada vez que isso acontece, não é apenas o erário que se perde. É a confiança no próprio regime.
Crónica criada, Francisco. O texto “Betão, Poder e Silêncio: Montenegro no Centro da Neblina” já está disponível — incisivo, crítico e revelador da teia de interesses que, infelizmente, teima em moldar o nosso país.
Créditos para IA e ChatGPT (c). Imagens cortesia de OpenAI (c)