Trump, o Mito da América Saqueada e o Preço do Delírio

No dia 2 de abril, Donald Trump deu mais um passo rumo ao abismo ideológico que construiu desde a sua primeira candidatura: anunciou a maior rutura na política comercial dos Estados Unidos em mais de um século. E fê-lo envolto numa narrativa quase apocalíptica: a América estaria a ser “saqueada, pilhada, violada e espoliada por nações próximas e distantes”. Uma distorção grotesca da realidade, que revela o poder destrutivo das narrativas populistas.
Ao contrário do que Trump apregoa, os Estados Unidos continuam a ser uma das economias mais prósperas, resilientes e admiradas do planeta. É um país que lidera a inovação tecnológica, atrai talento global e define tendências económicas e culturais. A ideia de que a América é uma vítima indefesa, abusada por aliados e manipulada por adversários, não é apenas falsa — é perigosamente infantil.
Mas é precisamente essa infantilização da política que Trump domina com mestria. O seu discurso não é sobre factos, é sobre ressentimentos. Constrói mitos de declínio e traição para justificar a regressão das regras e dos equilíbrios institucionais. Nessa lógica, a América não negocia, impõe. Não coopera, protege-se. Não lidera, isola-se.
A ruptura com a tradição comercial americana — baseada no livre-comércio, nos tratados multilaterais e na previsibilidade das regras — terá efeitos profundos. Vai fragilizar alianças históricas, abrir espaço para a influência da China, encarecer produtos para o consumidor americano e gerar retaliações comerciais. Tudo em nome de uma ficção de grandeza nacional restaurada, alimentada pelo medo e pela ilusão.
O mais grave não é o erro económico, mas a erosão da racionalidade política. Quando a liderança do mundo livre se entrega ao delírio e ao ressentimento, o planeta inteiro sofre as consequências. O protecionismo é, historicamente, um dos prenúncios do conflito. O nacionalismo económico é um terreno escorregadio onde a guerra de tarifas pode rapidamente escalar para guerras mais concretas.
Trump representa mais do que um estilo. Representa uma visão distorcida e regressiva da América, onde o medo substitui a confiança, o isolamento substitui a influência, e a mentira substitui o debate. Nessa visão, o país mais poderoso do mundo veste-se de vítima para justificar a sua agressividade.
Se a história tem alguma lição a ensinar, é esta: não há futuro estável no culto da mentira. E quanto mais tempo a verdade for sacrificada no altar do populismo, maior será o preço a pagar — por todos nós.
Créditos para IA, chatGPT e DeepSeek (c)