Trump, TikTok e Tarifas: Quando a Governação se Confunde com um Negócio Pessoal

Na mais recente demonstração da sua abordagem errática à política internacional e à governação, o Presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu reduzir tarifas alfandegárias sobre produtos chineses em troca da venda da rede social TikTok a uma empresa norte-americana. Esta proposta, feita num tom quase casual, levanta preocupações profundas sobre os limites entre interesses públicos e objetivos pessoais — e sobre a erosão da credibilidade dos Estados Unidos no cenário internacional.
Uma “negociação” fora do quadro institucional
O comércio internacional é tradicionalmente gerido por via de acordos complexos, regidos por normas multilaterais e sujeitos a mecanismos de regulação, como os da Organização Mundial do Comércio. No entanto, sob Trump, essas normas parecem descartáveis. A ameaça de impor tarifas ou o seu levantamento tornam-se cartas de jogo numa mesa onde os interesses nacionais e os caprichos do líder se confundem.
A troca proposta — “vendes o TikTok e eu talvez baixe as tarifas” — soa menos a uma política de Estado e mais a um negócio de bastidores. Esta lógica de chantagem simbólica e económica não apenas debilita a posição diplomática dos EUA, como mina qualquer esforço genuíno de construção de alianças comerciais duradouras.
Confusão entre Estado e empresa
Ao condicionar decisões alfandegárias à venda de uma empresa privada — ainda por cima envolvida num processo polémico de pressão governamental — Trump compromete os princípios básicos do livre mercado, da concorrência e da separação de poderes. A administração pública não pode ser usada para facilitar transações comerciais como se o Estado fosse um intermediário de luxo.
A própria ideia de que uma redução de tarifas possa ser oferecida como recompensa por um ato empresarial sugerido pelo governo coloca em causa a imparcialidade do poder executivo e cria um precedente perigoso para futuras administrações.
Impacto geopolítico e reação da China
Como seria previsível, a China rejeitou de imediato qualquer envolvimento numa “venda forçada” e não aceitou a sugestão de Trump. Para Pequim, isto não é mais do que uma provocação encoberta, que se junta à longa lista de episódios tensos entre as duas potências. Mas mais do que isso, a proposta evidencia a incapacidade dos EUA, sob Trump, de gerir com seriedade os desafios geopolíticos globais.
Colocar a venda de uma app popular como TikTok no centro de uma política de tarifas revela uma superficialidade perigosa nas prioridades estratégicas americanas. Se a segurança nacional é realmente a razão para a pressão sobre a aplicação, então esta não deveria ser usada como moeda de troca em negociações comerciais.
Conclusão: Um Estado ao serviço de um ego
Esta proposta é sintomática de uma visão do poder político centrada no ego, na improvisação e no desprezo pelas normas institucionais. Trump governa como se estivesse à frente de uma empresa familiar, em que tudo é negociável, desde os impostos até aos princípios constitucionais.
Num mundo onde a estabilidade, a confiança e a previsibilidade são bens escassos, os EUA correm o risco de se tornarem um ator cada vez mais isolado e desacreditado — precisamente porque o seu presidente não distingue entre um Estado democrático e um negócio privado.
Créditos para IA e chatGPT (c)