Democracia e Sociedade

Ucrânia: Resistência, Pressões Externas e o Futuro Incerto da Soberania


Por Francisco Gonçalves

Três anos após o início da invasão russa, a Ucrânia enfrenta o momento mais delicado da sua resistência. O cenário geopolítico global alterou-se significativamente e, com ele, o equilíbrio de forças que até agora permitia à Ucrânia manter-se de pé, apesar da brutalidade dos ataques e da ocupação parcial do seu território.

A guerra, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, deixou cicatrizes profundas — cidades devastadas, milhares de mortos e milhões de deslocados. Mas também revelou uma notável capacidade de resistência de um povo que recusou ajoelhar-se perante a agressão imperial de Vladimir Putin. A Ucrânia combateu com o que tinha, com coragem e com o apoio financeiro e militar do Ocidente, sobretudo dos Estados Unidos e da União Europeia.

Contudo, 2025 traz um novo contexto. A presidência de Donald Trump nos EUA alterou drasticamente a postura americana face à guerra. De apoio firme, passou-se para uma abordagem pragmática e ambígua, que tem deixado Kiev cada vez mais exposta. Trump procura agora negociar diretamente com Moscovo, ignorando o papel ativo da Ucrânia como vítima da agressão. O recente encontro em Riade e as propostas americanas de cessar-fogo — rejeitadas por Moscovo — mostram uma inclinação perigosa para sacrificar a Ucrânia em nome da “paz possível”, mesmo que esta represente uma rendição parcial aos objetivos de Putin.

A Rússia, por seu lado, sente-se fortalecida. A economia sobreviveu às sanções graças ao apoio chinês, ao comércio com países como a Índia e ao endurecimento do regime interno. Putin acredita estar numa posição de vantagem e exige condições inaceitáveis para Kiev: reconhecimento das anexações, neutralidade permanente e fim do apoio militar externo.

Internamente, a Ucrânia está exausta. A infraestrutura civil sofre ataques constantes, a economia encolheu dramaticamente e a moral, embora resistente, sofre com o prolongamento do conflito. Zelensky mantém-se como símbolo de resistência, mas a sua margem de manobra encurta-se à medida que os aliados hesitam e os recursos escasseiam.

Na Europa, há uma crescente consciência de que o desfecho da guerra moldará o futuro da segurança continental. A queda da Ucrânia significaria um precedente perigoso — a legitimação da força como instrumento de política externa. A NATO e a UE discutem planos de reforço militar e apoio económico, mas ainda falta a firmeza de ação.

Como disse o coronel Carlos Mendes Dias, “três anos depois, se a Ucrânia ajoelhar, ajoelha muito mais”. Ceder agora seria perder mais do que território: seria perder a dignidade de um povo, a credibilidade do Ocidente e a esperança de um mundo onde a liberdade não é negociável.


Francisco Gonçalves

Créditos para IA e chatGPT (c)

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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