Montenegro, Costa e o espelho de uma democracia repetitiva

Num momento em que Portugal atravessa mais uma crise política, a comparação entre Luís Montenegro, atual líder do PSD, e figuras como António Costa e José Sócrates, ambos do PS, tornou-se inevitável. No entanto, o mais surpreendente não é a comparação com Sócrates, cuja imagem pública está profundamente marcada por escândalos judiciais e suspeitas de corrupção. A comparação mais inquietante, feita por vozes críticas da sociedade civil e até da oposição, é com António Costa — um político habilidoso, aparentemente moderado, mas que, tal como Montenegro, soube proteger-se com as ferramentas do poder enquanto navegava pelas águas turvas da política.
Mudam os nomes, mantêm-se os métodos
Luís Montenegro ascendeu à liderança do PSD com o discurso de regeneração, transparência e competência. Porém, os episódios mais recentes envolvendo a sua empresa familiar Spinumviva, os alegados conflitos de interesse e a forma como tentou camuflar a situação através de transferências societárias para familiares, revelam uma prática política demasiado semelhante à que António Costa utilizou em momentos de tensão — contenção, negação e fuga para a frente.
Ambos adotam o mesmo estilo de escudo institucional, blindando-se com legalismos para evitar a dimensão ética da política. Ambos dominam o aparelho partidário e jogam com as ambiguidades do sistema, desvalorizando o escrutínio público. Ambos, em momentos de crise, afirmam-se “serenos” e “disponíveis para o julgamento dos portugueses”, ao mesmo tempo que recusam qualquer responsabilidade real.
A falsa alternância e a verdadeira continuidade
Em Portugal, a alternância entre PS e PSD tornou-se um simulacro de democracia. Os rostos mudam, os slogans evoluem, mas a estrutura de poder mantém-se intacta — centralizada, opaca, feita de redes de influência, favores cruzados, e uma elite política cada vez mais desligada da realidade dos cidadãos.
Esta continuidade estrutural é visível na forma como os partidos maiores tratam os escândalos: minimizam, adiam, relativizam. O caso das gémeas brasileiras, os negócios de familiares, as mudanças de traçado ferroviário para beneficiar conhecidos — tudo isto não são exceções, são sintomas. E Montenegro, que prometia ser diferente, acabou por encarnar mais do mesmo.
E o povo?
A grande tragédia não está apenas nos políticos, mas no círculo vicioso entre a apatia do povo e a audácia dos poderosos. Uma maioria de eleitores desiludidos já nem comparece nas urnas, acreditando que “são todos iguais”. E talvez estejam certos, na medida em que o sistema político atual parece moldado para impedir qualquer verdadeira mudança.
Conclusão: é tempo de quebrar o ciclo
O problema não é apenas de partidos, mas de regime. A democracia portuguesa está a viver num ciclo viciado de alternância sem alternativa, onde ética e responsabilidade são substituídas por manobras e encenações. O caso Montenegro não é um desvio, é mais um episódio de um sistema esgotado.
Portugal precisa de uma reforma profunda: transparência real, democracia participativa, descentralização, responsabilidade penal efetiva para titulares de cargos públicos e, acima de tudo, uma nova cultura política baseada no serviço ao bem comum, e não na perpetuação de carreiras políticas parasitárias.
Créditos para IA, chatGPT e DeepSeek, (c)
A tragédia da estagnação económica e uma economia de baixo valor acrescentado :