Democracia e Sociedade

A Dúvida como Força da Liberdade e do Progresso


Por: Francisco Gonçalves

Vivemos tempos de discursos fechados, verdades prontas, opiniões formatadas e indignações de conveniência. Tempos em que quem questiona é olhado com desconfiança, e quem não alinha é acusado de radical, conspirador ou “perigoso”. Mas a verdade — a mais profunda e simples das verdades — é que sem dúvida, não há progresso. E sem espírito livre, não há humanidade digna.

A história da civilização é a história dos que duvidaram. Dos que não aceitaram o dogma, dos que desafiaram reis, padres, políticos e senhores do tempo. Foi a dúvida que fez Galileu apontar o telescópio para o céu e contrariar séculos de certeza dogmática. Foi a dúvida que levou Darwin a observar a natureza com olhos novos. Foi a dúvida que moveu cientistas, artistas, filósofos e inventores a redesenhar o mundo.

A dúvida é irmã gémea da curiosidade. E juntas alimentam a imaginação, que nos permite ver o que ainda não existe e sonhar com o que ainda é impossível. É essa tríade — dúvida, curiosidade e imaginação — que sustenta o conhecimento verdadeiro, aquele que não se impõe pela força nem pela fé, mas pela razão, pela experiência, pelo espírito crítico.

Por oposição, a obediência cega é o alicerce de todos os regimes autoritários. Dos impérios absolutistas às ditaduras modernas, passando por seitas religiosas e democracias viciadas. O medo da mudança, da liberdade e da pergunta incómoda é o cimento com que se constroem os muros da estagnação. É mais fácil governar um povo obediente do que um povo pensante. É mais fácil manipular quem não questiona.

Infelizmente, as instituições — políticas, religiosas, mediáticas e até académicas — preferem hoje a repetição à reflexão, o alinhamento à autonomia, a crença à dúvida. Mas um povo que não duvida, que não exige, que não pensa, é um povo vulnerável e facilmente instrumentalizado.

É urgente resgatar o valor da inquietação saudável. Reabilitar a dúvida como instrumento de cidadania. Ensinar a curiosidade como virtude civilizacional. Valorizar a imaginação como motor de futuro. Porque só assim construiremos uma sociedade mais livre, mais justa e mais consciente.

A humanidade não precisa de mais seguidores — precisa de pensadores, sonhadores e criadores. De gente que não tenha medo de dizer “não sei”, “não concordo”, “não aceito”, e que a partir daí se atreva a descobrir novas respostas.

A liberdade não se resume ao direito de falar — é sobretudo o direito de pensar, de duvidar, de imaginar outro caminho. Que nunca nos deixemos domesticar pela facilidade da crença ou pela segurança ilusória da obediência.

O futuro pertence aos que não têm medo de perguntar.


Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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