Democracia e Sociedade

Trump no Segundo Mandato: O Que Ficará de Pé?


No seu segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump está a reafirmar-se como a figura mais polarizadora da história recente da política americana. Se, durante o primeiro mandato (2017-2021), o mundo se habituou a um estilo caótico, disruptivo e personalista, o segundo mandato (desde janeiro de 2025) está a revelar-se uma versão intensificada do mesmo enredo. A grande questão que paira é: o que ficará de pé no fim deste novo ciclo?

Consolidação do Poder Executivo

Logo nas primeiras semanas, Trump assinou quase 100 ordens executivas, desmontando estruturas fundamentais do governo federal. Entre as mais polémicas está a ordem de desmantelamento do Departamento da Educação — uma bandeira de longa data de sectores ultraconservadores, que veem na centralização federal da educação uma ameaça à liberdade individual.

Este gesto, aplaudido pela base trumpista, é visto por analistas como uma machadada num dos pilares do Estado moderno: a promoção equitativa da educação. Ao enfraquecer o ensino público, o governo favorece uma lógica privatista e desigual, com impactos duradouros.

Economia em Terreno Instável

Apesar de Trump continuar a afirmar que “tudo está a correr bem”, os mercados financeiros e a confiança dos consumidores dizem o contrário. O dólar tem vindo a enfraquecer, o S&P 500 caiu quase 10% desde fevereiro, e os receios de recessão estão a crescer.

A política económica errática, marcada por tarifas agressivas contra aliados e adversários, cortes orçamentais e instabilidade regulatória, está a afastar investidores. A guerra comercial com a China reacendeu, e as tarifas sobre importações do México e Canadá — ora aplicadas, ora suspensas — criam um clima de incerteza.

Política Externa: Um Tabuleiro de Contradições

No plano internacional, Trump aproxima-se perigosamente de Vladimir Putin, numa tentativa discutível de afastar Moscovo de Pequim. Contudo, muitos analistas apontam que Rússia e China continuam unidas por uma aliança estratégica anti-hegemónica contra os próprios Estados Unidos.

Trump insultou aliados europeus, ameaçou abandonar a NATO e exige aos parceiros aumentos exorbitantes nas despesas de defesa, sob pena de “não serem defendidos”. Estas atitudes minam décadas de diplomacia e criam fissuras profundas na aliança transatlântica.

Divisão Interna e Desprezo pelas Instituições

No plano doméstico, Trump intensificou a retórica agressiva contra juízes, jornalistas, adversários políticos e instituições democráticas. Já ameaçou afastar magistrados e deslegitimar decisões judiciais, comportamento que levou até o Supremo Tribunal a emitir um raro aviso público.

A polarização atingiu níveis extremos: 92% dos republicanos aprovam o seu desempenho, enquanto mais de 90% dos democratas o rejeitam. Os independentes, cruciais para a estabilidade política, estão cada vez mais céticos.

Legado ou Ruínas?

A questão fundamental é: o que ficará de pé após este segundo mandato?

  • Instituições democráticas: A pressão sobre tribunais, imprensa e agências independentes está a desgastar o sistema de freios e contrapesos. A democracia americana sobrevive, mas com feridas abertas.
  • Confiança internacional: A credibilidade dos EUA como aliado global está profundamente abalada. Os europeus e muitos países asiáticos já falam em “autonomia estratégica” face a Washington.
  • Economia: Os desequilíbrios provocados pelas políticas protecionistas e populistas poderão levar anos a corrigir. A dívida pública disparou, e a inflação persiste.
  • Cultura política: O trumpismo moldou uma nova geração de políticos e eleitores — desconfiados da ciência, avessos à diversidade e dispostos a aceitar líderes autoritários se isso significar “vitória” para o seu lado.

Conclusão

O segundo mandato de Trump é, até agora, um campo de batalha entre o impulso destrutivo e a resiliência institucional. Se o presidente conseguir manter o apoio da sua base e evitar que a economia colapse por completo, poderá sair do cargo como um “vencedor” aos olhos dos seus. Mas o que deixará para os EUA e para o mundo será, muito provavelmente, um rasto de divisão, descrédito e desgaste — difícil de reconstruir.


Autor : Francisco Gonçalves

Créditos para IA, chatGPT e DeepSeek (c)

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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