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O Mobbing em Portugal: A Violência Silenciosa que Corrói as Empresas e a Sociedade

Em Portugal, onde a precariedade laboral e a cultura de subserviência ainda imperam em muitos sectores, o assédio moral no trabalho — também conhecido como mobbing — continua a ser um flagelo silencioso, tolerado, desvalorizado e, muitas vezes, ignorado. Mas os danos são profundos, persistentes e transversais, atingindo indivíduos, equipas, empresas e até a economia nacional.


O que é o mobbing?

O conceito foi desenvolvido pelo psicólogo alemão Heinz Leymann, que o descreveu como uma forma extrema de violência psicológica sistemática, exercida com o objetivo de destruir a vítima. Trata-se de uma guerra psicológica no local de trabalho, que inclui humilhações constantes, isolamento, desprezo, sabotagem, imposição de tarefas impossíveis, difamação e outras práticas tóxicas. Quando esse comportamento ocorre repetidamente, ao longo de meses, a destruição pessoal e profissional é inevitável.


Portugal: Terreno fértil para o abuso silencioso

A estrutura hierárquica rígida das empresas portuguesas, o medo da retaliação, a ausência de mecanismos eficazes de denúncia e o baixo nível de literacia legal e psicológica dos trabalhadores tornam o país especialmente vulnerável a este fenómeno.

O problema é agravado pelo “tudo se tolera” da cultura empresarial nacional, onde gestores inseguros e medíocres muitas vezes se mantêm no poder através da manipulação, intimidação e controlo total dos subordinados. Chefes autoritários, paternalistas, narcisistas ou psicologicamente instáveis utilizam o seu cargo como instrumento de opressão, travando carreiras, destruindo autoestima e empurrando talentos para o exílio emocional ou físico.


As faces do agressor

Como explicou a psicóloga Margarida Barreto, existem múltiplos perfis de assediadores:

  • O “Pit-bull”, que humilha abertamente.
  • O “Profeta”, que justifica cortes e despedimentos como uma missão purificadora.
  • O “Big Brother”, que manipula emocionalmente e trai a confiança dos colegas.
  • O “Mala-babão”, o adulador dos chefes que espreita qualquer oportunidade para delatar e dominar.

Estes perfis coexistem num ambiente laboral permissivo, onde a liderança fraca se escuda no autoritarismo e nas aparências de produtividade.


As consequências são devastadoras

Para o indivíduo:

  • Depressão, ansiedade, insónias, crises de choro, sentimentos de inutilidade, stress pós-traumático e, em casos extremos, suicídio.
  • Sintomas físicos psicossomáticos: náuseas, dores crónicas, palpitações, problemas gastrointestinais.

Para a empresa:

  • Aumento do absentismo e da rotatividade de pessoal.
  • Queda da produtividade, da inovação e do moral das equipas.
  • Reputação manchada, com dificuldade em atrair talento qualificado.

Para a sociedade:

  • Sobrecarga do sistema de saúde mental.
  • Drenagem de talento e criatividade para o estrangeiro.
  • A normalização da mediocridade e do autoritarismo.

Um crime que ainda é tolerado

Apesar dos progressos legais e da crescente atenção mediática, o assédio moral continua largamente impune em Portugal. São raros os casos levados a tribunal, e mais raras ainda as condenações. A vítima é frequentemente silenciada, revitimizada ou afastada sob pretextos falsos.

O Estado também falha:

  • Falta fiscalização eficaz por parte da ACT.
  • As empresas públicas e autarquias são, muitas vezes, palco recorrente de mobbing, com cobertura política.
  • Não existe uma cultura organizacional baseada na empatia, meritocracia e ética.

Chega de silêncio

É urgente que os trabalhadores portugueses saibam que:

  • O assédio moral é um crime.
  • A denúncia é um direito e uma necessidade.
  • A empresa que tolera o mobbing está a sabotar-se a si própria.

Portugal precisa de sair da sombra da humilhação e do medo para uma cultura de respeito, dignidade e humanidade.


Francisco Gonçalves

Créditos para IA, chatGPT e DeepSeek (c)

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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