Trump, Putin e Xi: A Ingenuidade de um Triângulo Geopolítico Impossível

Na mais recente jogada diplomática do presidente norte-americano Donald Trump, assistimos a uma tentativa quase romântica de reviver uma estratégia da Guerra Fria que já não tem lugar no mundo contemporâneo. Ao estender a mão a Vladimir Putin, Trump parece querer afastar a Rússia de Xi Jinping, como Richard Nixon fez em 1972 ao aproximar os EUA da China para isolar a então União Soviética. Mas a história não se repete da mesma forma — e muito menos sob os mesmos protagonistas.
A ilusão de uma reedição de Kissinger
Nos anos 70, a manobra de Nixon e Henry Kissinger assentava num contexto bipolar e numa China ainda incipiente como potência global. Hoje, tanto a Rússia como a China são atores firmemente posicionados contra a hegemonia americana, e o seu entendimento baseia-se numa aliança de conveniência que, apesar das suas assimetrias, tem objetivos estratégicos bem definidos: reduzir o poder dos EUA na ordem internacional, enfraquecer o bloco ocidental e reforçar os seus próprios regimes autoritários no cenário global.
Trump, ao contrário do pragmatismo sofisticado de Kissinger, revela uma compreensão rudimentar das dinâmicas globais. A sua estratégia de “carícia e confronto” oscila entre o isolamento de aliados históricos (como a NATO e a União Europeia) e a sedução de líderes autoritários, sem qualquer consistência doutrinal ou lógica geopolítica sustentada.
Um triângulo disfuncional
A Rússia de Putin não tem ilusões quanto às suas limitações económicas e militares face à China, mas encontra em Pequim um parceiro vital para escapar às sanções ocidentais, vender energia e manter a sua influência global. A China, por seu lado, vê na Rússia um aliado útil para enfrentar a pressão americana na Ásia e no Indo-Pacífico, sem que isso implique subordinação. Ambos partilham valores de oposição ao liberalismo, ao pluralismo democrático e aos direitos humanos universais.
Trump, ao tentar atrair Putin, ignora esta realidade objetiva. A sua aproximação à Rússia pode, no máximo, gerar algum ganho mediático interno ou alimentar a retórica populista que o sustenta. Mas não oferece à Rússia nada que valha a pena abandonar a aliança com a China. Pelo contrário, a instabilidade que Trump gera dentro do próprio Ocidente — descredibilizando a NATO, desvalorizando a diplomacia europeia, ameaçando instituições multilaterais — funciona como incentivo à coesão entre Moscovo e Pequim.
O ocaso da diplomacia americana?
O episódio atual é mais uma prova de que os EUA vivem uma crise profunda de liderança internacional. Ao invés de restaurar a confiança dos aliados ou fortalecer o papel global do país, Trump continua a desmantelar décadas de soft power e a projetar os EUA como um ator errático, emocional e volátil.
Para os seus apoiantes mais fervorosos, estas jogadas de Trump são vistas como demonstrações de “força” e “independência”. Na realidade, são sinais claros de vulnerabilidade estratégica e de uma administração que prefere o improviso à visão, e a provocação ao diálogo racional.
A longo prazo, o resultado desta diplomacia improvisada poderá ser desastroso: um Ocidente dividido, uma Europa isolada, uma Ásia mais alinhada com a China e uma Rússia ainda mais perigosa, encorajada por um aliado imprevisível sentado na Sala Oval.
Conclusão
Trump não é Nixon. Putin não é Brejnev. E Xi Jinping está longe de ser o Deng Xiaoping de 1972. A história pode inspirar, mas nunca pode ser reproduzida em fotocópia. A tentativa de Trump de separar Rússia e China através de charme político revela mais sobre as suas limitações do que sobre as possibilidades reais da geopolítica global.
Créditos para IA, DeepSeek e chatGPT (c)