Resumo do livro “O Mago do Kremlin”

Essencial a leitura para melhor compreender a Rússia de Putin, o ambiente interno e externo, e quais os perigos para a Europa, que muitos ainda parecem desconhecer.

“O Mago do Kremlin” é um romance de Giuliano da Empoli, publicado em 2022, que oferece uma visão ficcional dos bastidores do poder na Rússia contemporânea. A narrativa centra-se em Vadim Baranov, uma figura enigmática inspirada em Vladislav Surkov, ex-assessor de Vladimir Putin. Baranov, outrora produtor de reality shows, torna-se uma eminência parda no Kremlin, desempenhando um papel crucial na ascensão e manutenção do poder do “Czar”, uma referência a Putin.

Ao longo do romance, Baranov partilha as suas experiências e reflexões sobre a natureza do poder, descrevendo-o como uma forma de expressão artística semelhante ao teatro de vanguarda. Ele aborda conceitos como “democracia soberana” e “vertical do poder”, elementos centrais na ideologia do Kremlin. A obra explora a irracionalidade inerente ao poder e as limitações da racionalidade humana na política.

Publicada pouco após o início da invasão russa da Ucrânia em 2022, a obra ganhou destaque por fornecer uma perspetiva sobre as dinâmicas internas do Kremlin. Recebeu elogios da crítica, vencendo o Grande Prémio do Romance da Academia Francesa e sendo finalista do Prémio Goncourt. No entanto, alguns críticos apontaram que a linha tênue entre ficção e realidade poderia perpetuar estereótipos sobre a Rússia.

“O Mago do Kremlin” oferece uma meditação profunda sobre o poder, a política e a complexidade da natureza humana, proporcionando aos leitores uma compreensão mais ampla das forças que moldam a Rússia contemporânea.

O Mago do Kremlin oferece uma visão ficcional, mas profundamente realista, sobre os bastidores do poder na Rússia, ajudando a compreender a forma como Vladimir Putin governa e os seus objetivos estratégicos.

Através da personagem Vadim Baranov, inspirada em Vladislav Surkov (um dos ideólogos do regime), o livro mostra como o Kremlin construiu uma narrativa de poder baseada na manipulação da realidade, na desinformação e no nacionalismo. O leitor percebe como Putin consolidou o seu domínio, combinando força, teatralidade e uma visão geopolítica que desafia o Ocidente.

O romance sugere que Putin não age apenas por pragmatismo, mas também por uma visão messiânica da Rússia, vendo-se como o líder que restaura a grandeza do país após o colapso da União Soviética. A guerra na Ucrânia, por exemplo, pode ser interpretada como parte desse objetivo maior de reposicionar a Rússia como uma potência incontestável.

Portanto, ao ler O Mago do Kremlin, é possível compreender melhor o Putin de hoje, os métodos que usa para se manter no poder e a lógica por trás das suas decisões, que muitas vezes parecem irracionais para o Ocidente, mas fazem sentido dentro da sua própria estratégia de poder absoluto.

E a Europa tem razões paracse preocupar, peguntam vocês?

A resposta é Sim, a Europa tem razões para estar preocupada. O Mago do Kremlin ilustra bem como o regime de Putin vê o mundo como um jogo estratégico, onde a força e a manipulação são essenciais para garantir a sobrevivência da Rússia como potência. Esse pensamento reflete-se nas ações do Kremlin nos últimos anos: anexação da Crimeia, guerra na Ucrânia, ingerência em eleições ocidentais, dependência energética da Europa e alianças com regimes autoritários.

A principal preocupação para a Europa é que Putin não parece disposto a recuar. Pelo contrário, está a apostar num confronto prolongado com o Ocidente, contando com a fragilidade política e divisões internas da União Europeia e dos EUA. Além disso, o seu regime não opera apenas no campo militar: desinformação, ciberataques, uso da energia como arma geopolítica e apoio a movimentos extremistas fazem parte da sua estratégia.

Se a Europa não reforçar a sua coesão, capacidade militar e independência energética, poderá tornar-se cada vez mais vulnerável. A guerra na Ucrânia já mostrou que a segurança europeia não é garantida e que o regresso a um mundo de conflitos entre blocos é uma realidade. Neste contexto, a Europa precisa de estar atenta e preparada, porque Putin joga a longo prazo e sem limites claros.

O livro “O Mago do Kremlin “