Democracia e Sociedade

Trump e a Geopolítica: O Perigo de um Isolacionismo Estratégico


Desde que reassumiu a presidência dos Estados Unidos em janeiro de 2025, Donald Trump tem conduzido uma política externa marcada pelo afastamento dos aliados históricos e por uma surpreendente reaproximação com a Rússia. O seu estilo agressivo e imprevisível no cenário internacional ameaça a estabilidade global e poderá resultar em consequências graves para a posição dos EUA no mundo.

1. O Abandono dos Aliados Tradicionais

Trump já demonstrou, tanto no seu primeiro mandato (2017-2021) como agora, um ceticismo em relação às alianças multilaterais que sustentam a influência global dos EUA. Desde que regressou ao poder, tem intensificado a sua postura contra a NATO, questionando o financiamento da aliança e sugerindo que os EUA podem mesmo retirar-se do bloco.

Além disso, a sua administração tem seguido uma política comercial protecionista, afetando diretamente parceiros como a União Europeia, o Reino Unido, o Canadá e o México. Esta abordagem fragiliza relações fundamentais para os interesses económicos e geopolíticos dos Estados Unidos.

2. A Ilusão da Aliança com a Rússia

Um dos aspetos mais polémicos da política externa de Trump em 2025 é a sua aproximação a Vladimir Putin. Em várias ocasiões, tem minimizado a ameaça russa, sugerindo que uma parceria entre Washington e Moscovo poderá beneficiar ambos os países. No entanto, esta estratégia apresenta riscos significativos:

  • Putin mantém laços estreitos com a China e dificilmente sacrificaria essa relação estratégica para favorecer os EUA.
  • A Rússia tem um histórico de agir de forma oportunista e poderá explorar a abertura dada por Trump para conseguir concessões sem oferecer nada em troca.
  • A Europa, sentindo-se ameaçada, poderá acelerar a sua independência militar e económica, reduzindo ainda mais a influência americana no Ocidente.

Se Trump realmente trocar os seus aliados tradicionais pela Rússia, os EUA podem acabar isolados e enfraquecidos a longo prazo.

3. O Avanço da China e o Declínio da Liderança Americana

Enquanto Trump rompe laços históricos, a China continua a expandir o seu poder global:

  • Economicamente, Pequim reforça as suas cadeias de abastecimento e expande a sua influência na Ásia, África e América Latina.
  • Militarmente, a China fortalece a sua presença no Pacífico, desenvolve armas avançadas e mantém laços estratégicos com a Rússia, o Irão e a Coreia do Norte.
  • Politicamente, Xi Jinping aproveita as divisões ocidentais para se apresentar como um líder estável e confiável no cenário global.

Se os EUA abandonarem os seus aliados tradicionais, a China terá ainda mais facilidade em consolidar a sua posição como potência dominante do século XXI.

4. O Impacto Económico para os EUA

Romper laços com a Europa, o Canadá, o México e o Reino Unido não é apenas um risco geopolítico, mas também um desastre económico.

  • A União Europeia é o maior parceiro comercial dos EUA, e o México é essencial para as cadeias de abastecimento das empresas americanas.
  • Substituir estes aliados pela Rússia, cuja economia é altamente dependente da exportação de energia e enfrenta sanções internacionais, é um erro estratégico sem precedentes.
  • As empresas americanas poderão enfrentar barreiras comerciais mais rígidas na Europa, enquanto a China aproveita para ocupar o espaço deixado pelos EUA.

O resultado poderá ser uma perda de competitividade global para os Estados Unidos e um aumento da influência económica chinesa.

5. O Legado de Trump: Uma América Isolada e Enfraquecida

Se Trump continuar nesta trajetória, o resultado será o enfraquecimento da posição global dos EUA. A fragmentação das alianças ocidentais e a tentativa de se alinhar com a Rússia poderão acelerar a ascensão da China e isolar os Estados Unidos a longo prazo.

A grande questão é: esta estratégia de Trump será um erro de cálculo ou fará parte de um plano maior? Se for um erro, as consequências poderão ser irreversíveis. Se for intencional, os EUA poderão estar a testemunhar o maior realinhamento geopolítico da era moderna – e não a seu favor.

Francisco Gonçalves

Créditos para IA, chatGPT e DeepSeek (c)

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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