Democracia e Sociedade

Portugal: Literacia e Cidadania Ativa — Os Pilares Esquecidos da Mudança


Introdução: Um País à Espera de Despertar

Portugal é um país de contrastes. De um lado, temos uma história rica, uma cultura vibrante e exemplos de resiliência e criatividade. Do outro, enfrentamos desafios estruturais profundos: baixos salários, fuga de cérebros, desigualdade regional e uma economia ainda muito dependente de setores tradicionais.

Mas há um problema ainda mais profundo, que muitas vezes passa despercebido: a falta de literacia e de cidadania ativa. Sem cidadãos informados, participativos e críticos, as reformas políticas e económicas ficam limitadas, e a democracia enfraquece. Este artigo explora como estas lacunas estão a travar o progresso de Portugal e propõe caminhos para as superar.


1. O Problema da Baixa Literacia em Portugal

A. Literacia Básica e Digital

  • Dados Alarmantes:
    Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), Portugal está abaixo da média da OCDE em literacia matemática, científica e de leitura. Além disso, cerca de 50% da população tem dificuldades em lidar com informações digitais básicas, como usar um computador ou navegar na internet.
  • Impacto:
    A baixa literacia limita a capacidade das pessoas de compreender questões complexas, como políticas públicas, impostos ou direitos laborais. Isso torna-as mais vulneráveis à desinformação e menos capazes de participar ativamente na democracia.

B. Literacia Financeira

  • Realidade:
    Muitos portugueses têm dificuldades em gerir o seu dinheiro, compreender produtos financeiros ou planear a reforma. Um estudo do Banco de Portugal mostrou que apenas 30% dos adultos têm conhecimentos básicos de literacia financeira.
  • Consequências:
    Isso leva a decisões financeiras ruins, endividamento excessivo e dependência do Estado, perpetuando ciclos de pobreza e desigualdade.

2. A Falta de Cidadania Ativa

A. Desinteresse Político

  • Abstenção Eleitoral:
    Nas últimas eleições legislativas, a abstenção rondou os 40%, um sinal claro de desinteresse ou descrença no sistema político.
  • Falta de Participação:
    Muitos cidadãos não participam em associações, movimentos cívicos ou debates públicos, limitando-se a queixas informais nas redes sociais ou em conversas de café.

B. Desconfiança nas Instituições

  • Percepção de Corrupção:
    A corrupção e o nepotismo alimentam a desconfiança nas instituições. Muitos portugueses acreditam que o sistema está “viciado” e que a sua voz não faz diferença.
  • Falta de Transparência:
    A opacidade na gestão pública e a lentidão da justiça reforçam a ideia de que “tudo está podre”.

3. Como Superar Estas Lacunas?

A. Educação para a Cidadania

  • Escolas:
    Introduzir disciplinas de educação cívica e literacia financeira desde o ensino básico. Os jovens devem aprender não apenas matemática e português, mas também como funcionam as instituições democráticas, como interpretar notícias e como gerir o seu dinheiro.
  • Adultos:
    Criar programas de formação contínua em literacia digital, financeira e cívica, especialmente para populações mais velhas e vulneráveis.

B. Promover a Participação Cívica

  • Orçamentos Participativos:
    Expandir iniciativas como os orçamentos participativos, onde os cidadãos decidem como parte do dinheiro público é gasto. Isso dá às pessoas um sentido de responsabilidade e poder.
  • Plataformas Digitais:
    Criar plataformas online onde os cidadãos possam debater propostas políticas, sugerir ideias e votar em iniciativas locais. A Estónia é um exemplo de sucesso nesta área.

C. Combater a Desinformação

  • Educação Mediática:
    Ensinar as pessoas a identificar notícias falsas, a verificar fontes e a pensar criticamente.
  • Transparência Governamental:
    Tornar a informação pública mais acessível e compreensível, usando linguagem clara e visualizações simples.

D. Reforçar a Confiança nas Instituições

  • Combate à Corrupção:
    Fortalecer órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas e a Inspeção-Geral das Atividades Económicas, e garantir que os casos de corrupção são investigados e punidos de forma rápida e transparente.
  • Reformas na Justiça:
    Agilizar os processos judiciais e tornar o sistema mais acessível ao cidadão comum.

4. O Papel de Cada Um de Nós

A transformação de Portugal não depende apenas do governo ou das elites. Cada cidadão tem um papel a desempenhar:

  • Informar-se: Ler notícias de fontes confiáveis, participar em debates e estar atento às decisões políticas.
  • Participar: Votar, juntar-se a associações ou movimentos cívicos, e exigir transparência dos eleitos.
  • Educar: Partilhar conhecimentos com familiares e amigos, especialmente os mais jovens ou menos informados.

Conclusão: Literacia e Cidadania como Pilares da Mudança

A falta de literacia e cidadania ativa não é apenas um problema individual; é um obstáculo coletivo ao progresso de Portugal. Sem cidadãos informados, participativos e críticos, as reformas políticas e económicas ficam limitadas, e a democracia enfraquece.

No entanto, há esperança. Iniciativas como a educação cívica nas escolas, os orçamentos participativos e as plataformas digitais de participação mostram que é possível construir uma sociedade mais informada e envolvida.

A pergunta que fica é: estamos dispostos a fazer a nossa parte? A mudança começa com cada um de nós. 🌱📚🗳️


Este artigo é um chamado à ação. Literacia e cidadania ativa não são luxos; são necessidades urgentes para um Portugal mais justo, próspero e democrático.


Francisco Gonçalves

Créditos para IA e DeepSeek (c)

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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