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O Silêncio dos Inocentes: Como a Passividade Política Pode Levar os EUA a uma Ditadura

A democracia americana sempre se apresentou como um modelo de liberdade e um bastião contra o autoritarismo. No entanto, nos últimos anos, e de forma alarmante nos últimos meses, os sinais de erosão democrática têm-se multiplicado, e a resposta das instituições e da sociedade americana tem sido um silêncio ensurdecedor. O regresso de Donald Trump ao poder, acompanhado por uma postura cada vez mais desafiadora às normas constitucionais, levanta uma questão crucial: está a América a caminho de uma ditadura?

Trump e a Concentração de Poder

A recente declaração do vice-presidente JD Vance, afirmando que “os juízes não podem controlar o poder legítimo do executivo”, é um claro ataque ao sistema de checks and balances que define a democracia americana. Esse sistema, concebido para evitar a concentração excessiva de poder em um único ramo do governo, está agora sob forte pressão, especialmente quando o próprio executivo demonstra intenções de ignorar decisões judiciais que possam contrariar a sua agenda.

A situação torna-se ainda mais preocupante com a recente ordem executiva de Trump, que centraliza o controlo sobre agências independentes como a Comissão Federal do Comércio (FTC) e a Comissão de Valores Mobiliários (SEC). Estas agências, criadas para operar de forma independente do poder executivo, agora devem submeter suas decisões à Casa Branca, reduzindo significativamente a sua autonomia.

Silêncio e Oportunismo Político

Diante desses desenvolvimentos, esperava-se uma reativação das instituições democráticas e dos partidos políticos comprometidos com a democracia. No entanto, o que se observa é um silêncio conivente por parte de muitos democratas e republicanos. O Partido Democrata, em vez de travar uma batalha feroz contra estas ameaças, parece fragmentado e sem direção. Por outro lado, os republicanos, dominados pelo trumpismo, evitam confrontar um líder cuja base é militante e agressiva.

Este silêncio pode ser interpretado de duas formas: ou os políticos subestimam a gravidade da situação e acreditam que as instituições vão corrigir o curso por si mesmas, ou existe um cálculo político oportunista que impede uma reação firme. Em ambos os casos, a história mostra que esse tipo de passividade frequentemente resulta na consolidação do poder autocrático.

A Aproximação Perigosa a Putin e o Isolamento dos EUA

Outro elemento que deveria alarmar os americanos é a crescente proximidade de Trump com Vladimir Putin. Enquanto a sua administração trata aliados históricos da NATO com desdém e desprezo, Trump continua a fazer elogios a um líder cuja política interna é marcada por repressão brutal e eliminação de opositores.

Esta postura levanta questões fundamentais: Trump está a preparar o caminho para um realinhamento geopolítico dos EUA? O afastamento das democracias ocidentais e a aproximação a regimes autoritários farão parte de um plano mais amplo de transformação do governo americano num modelo autocrático? Se assim for, o perigo é ainda maior do que se pensava.

O Controlo da Cultura e o Enfraquecimento da Dissidência

Noutro movimento característico de regimes autoritários, Trump assumiu o controlo de instituições culturais chave, como o Centro John F. Kennedy para as Artes Performativas, nomeando aliados políticos e afastando lideranças independentes. Este tipo de intervenção tem sido historicamente utilizado para minar vozes dissidentes e transformar a cultura numa ferramenta de propaganda.

Quando um governo controla não apenas as leis, mas também a narrativa cultural e artística, o espaço para a oposição e a liberdade de expressão diminui drasticamente. Este é mais um sinal de que os EUA estão a caminhar para um modelo de governação onde a dissidência não será tolerada.

Conclusão: Há Tempo para Travar a Deriva Autoritária?

A questão que se coloca agora é: os americanos ainda têm tempo para reagir? A história está repleta de exemplos de democracias que caíram não devido a um golpe de estado imediato, mas sim devido a um processo gradual de erosão institucional, sempre acompanhado de um silêncio cómplice.

O silêncio dos que deveriam defender a democracia é precisamente o que permite que o autoritarismo se instale. Se não houver uma reação forte e decisiva em breve, os EUA podem em breve encontrar-se num ponto de não retorno, onde o sistema democrático já não possa ser restaurado.

A democracia americana já sobreviveu a várias crises, mas nunca enfrentou uma ameça interna tão grave como esta. Se os americanos não acordarem para a realidade, a sua próxima grande luta pode não ser uma batalha política, mas sim uma luta pela própria liberdade.

Francisco Gonçalves

Créditos para IA, DeepSeek e ChatGPT (c)

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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