Collective Intelligence,  humanidade,  Sociedade e politica

A Sociedade da Mediocridade e a Idolatria Como Reflexo da Nossa Condição Primitiva

A sociedade moderna, apesar de todos os avanços tecnológicos e científicos, continua refém de comportamentos primitivos que limitam o progresso intelectual e cultural. A necessidade de pertença ao grupo, a idolatria por figuras públicas e a rejeição da individualidade crítica demonstram que, em muitos aspetos, ainda estamos muito próximos dos primatas dos quais evoluímos.

A Conformidade: O Caminho Mais Fácil

Desde cedo, a sociedade ensina que ser aceite é mais importante do que ser excecional. A maioria das pessoas adapta-se ao ambiente que a rodeia, repetindo comportamentos e crenças sem grande reflexão. Ser mediano, ter gostos populares como o futebol, seguir tendências e evitar conflitos é a fórmula mais simples para ser aceite em grupos sociais.

Aqueles que desafiam esta norma – que discordam, apresentam pontos de vista diferentes ou demonstram mais conhecimento e competência – são muitas vezes rejeitados ou ridicularizados. O conformismo é mais confortável, pois evita a necessidade de pensar criticamente e questionar o mundo.

O Futebol e o Entretenimento de Massas Como Ferramentas de Controle

O futebol, um dos maiores fenómenos sociais do planeta, é um exemplo claro desta tendência. Milhões de pessoas dedicam horas da sua vida a assistir, discutir e idolatrar jogadores e equipas, muitas vezes com um fervor quase religioso.

A loucura coletiva dos estádios, onde multidões vibram em conjunto, revela uma faceta primitiva do ser humano: a necessidade de pertencer a uma tribo e de partilhar emoções básicas como euforia e raiva. Quando este fanatismo degenera em violência, torna-se evidente que o espírito de rebanho pode facilmente levar ao caos e à irracionalidade.

Não se trata apenas do futebol. O entretenimento de massas – concertos, reality shows, redes sociais – funciona como um anestésico coletivo. Enquanto a população está distraída com a vida de celebridades, com os escândalos políticos momentâneos ou com as modas passageiras, deixa de questionar assuntos mais importantes, como a corrupção, a desigualdade e a estagnação social.

A Idolatria e a Submissão: Reflexos de uma Mente Primitiva

Outro sintoma deste fenómeno é a idolatria cega por figuras públicas. Jogadores de futebol, líderes políticos, religiosos e até milionários tornam-se objetos de veneração, independentemente do seu mérito real.

A idolatria é um resquício do nosso passado evolutivo, onde seguir um líder forte aumentava as chances de sobrevivência. Hoje, este comportamento traduz-se na submissão irracional a líderes que, muitas vezes, não possuem qualquer competência ou integridade. Muitos enriquecem através de meios duvidosos, mas são admirados apenas pelo seu estatuto e não pelo seu caráter ou pelas suas contribuições reais para a sociedade.

A necessidade de seguir cegamente líderes políticos e religiosos demonstra uma incapacidade generalizada para o pensamento crítico. Em vez de avaliar ideias e ações de forma racional, muitas pessoas seguem narrativas de poder apenas porque são amplamente aceites.

A Nossa Condição Humana: Ainda Perto dos Símios

Se analisarmos a história da humanidade, percebemos que, durante milhões de anos, a principal forma de aprendizagem dos nossos antepassados era a imitação e a adesão ao grupo. Quem não seguia o comportamento coletivo corria o risco de ser excluído e, consequentemente, não sobrevivia.

Embora tenhamos desenvolvido tecnologias avançadas e criado sociedades complexas, o nosso cérebro continua programado para funcionar como o de um animal social que valoriza a aceitação acima da razão. A emoção continua a sobrepor-se à lógica, e o impulso de pertencer a um grupo continua a ser mais forte do que a necessidade de compreender a realidade de forma objetiva.

O Caminho para a Evolução Real

Se a humanidade quiser realmente evoluir para um novo patamar, precisa de romper com este ciclo de mediocridade e idolatria. Para isso, é essencial:

  1. Promover o pensamento crítico – Ensinar as pessoas a questionar informações, a avaliar argumentos e a procurar a verdade além das narrativas impostas.
  2. Valorizar a competência e a inovação – Reconhecer o mérito real, em vez de premiar a mediocridade e a conformidade.
  3. Reduzir a influência da cultura de entretenimento superficial – Incentivar um consumo mais consciente de informação e entretenimento.
  4. Rejeitar a idolatria irracional – Avaliar figuras públicas pelo seu caráter e ações, e não pelo seu estatuto ou riqueza.
  5. Incentivar a individualidade e a coragem intelectual – Encorajar as pessoas a pensarem por si mesmas, mesmo que isso as coloque em desacordo com a maioria.

Se continuarmos a viver como primatas sociais que apenas seguem o grupo e adoram figuras sem mérito, a humanidade nunca alcançará o seu verdadeiro potencial. O futuro pertence aos que ousam pensar diferente, desafiar as normas e construir algo melhor.

Francisco Gonçalves

e-mail: francis.goncalves@gmail.com

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *