Democracia e Sociedade

Portugal: Um País Refém da Corrupção e da Apatia Popular

A corrupção em Portugal não é apenas um problema pontual ou um conjunto de casos isolados que surgem ocasionalmente nas manchetes dos jornais. É um sistema bem enraizado, sustentado por décadas de nepotismo, tráfico de influências e impunidade. Pior do que isso, é um sistema que conta com a apatia da população, que, desiludida e cansada, já não acredita que seja possível mudar alguma coisa.

A Máfia do Poder

Os escândalos políticos são tantos e tão recorrentes que já nem chocam. Ministros e secretários de Estado são apanhados em esquemas suspeitos, contratos públicos são distribuídos a amigos e familiares, ajustes diretos beneficiam sempre os mesmos grupos, e os partidos governam como verdadeiras máfias, protegendo os seus membros a todo custo.

O sistema está montado de forma a garantir que as mesmas pessoas ou os mesmos grupos mantenham o poder, independentemente de quem ganha eleições. E quando algum elemento cai em desgraça, há sempre uma porta giratória à espera: um cargo numa empresa pública, uma consultoria milionária ou uma “recolocação” numa instituição europeia.

A Impunidade Como Regra

Parte do problema reside no facto de que a fiscalização e a justiça em Portugal são ineficazes para lidar com a corrupção. O Tribunal de Contas identifica irregularidades, mas as suas conclusões raramente resultam em consequências concretas. Quando casos chegam aos tribunais, os processos arrastam-se durante anos, até prescreverem ou resultarem em penas leves.

Se existisse uma ligação direta entre o Tribunal de Contas e o Ministério Público, permitindo investigações imediatas, muitos destes esquemas poderiam ser travados antes que causassem danos irreparáveis. Mas isso não acontece, porque os próprios políticos controlam as regras do jogo e não têm interesse em mudar um sistema que os favorece.

Orçamento Base Zero: Um Perigo Para a Classe Política

Outra solução que poderia reduzir drasticamente o desperdício e a corrupção seria a adoção de um orçamento base zero. Atualmente, os orçamentos do Estado partem sempre da base do ano anterior, o que significa que despesas inúteis ou fraudulentas continuam a ser financiadas sem questionamento.

Se cada ministério tivesse de justificar todas as suas despesas do zero a cada ano, haveria muito menos margem para desvios e ajustes diretos suspeitos. Mas, claro, esta medida nunca será adotada por vontade própria dos políticos, porque limitaria os seus esquemas.

O Povo Conformado: Até Quando?

O grande trunfo do sistema corrupto português é a passividade do povo. Apesar das queixas, dos escândalos e da degradação dos serviços públicos, não há uma revolta real. Muitos já aceitaram que “é assim e sempre foi”, outros estão demasiado ocupados a sobreviver para pensar em mudança, e há ainda aqueles que, de uma forma ou de outra, dependem do sistema e têm medo de o questionar.

Mas até quando durará essa apatia? O povo português já mostrou no passado que, quando a miséria se torna insuportável, reage. A Islândia conseguiu derrubar um governo corrupto com protestos pacíficos e pressão constante nas ruas. O que falta para que Portugal siga esse exemplo?

Talvez só quando a pobreza for insustentável e o sistema já não conseguir disfarçar os seus próprios crimes é que a revolta despertará. Até lá, os políticos continuarão a governar como autênticas máfias, protegidos pela impunidade e pelo conformismo geral.

A questão é: quando esse dia chegar, haverá alguma força capaz de canalizar essa indignação para uma mudança real? Ou será apenas mais um episódio de frustração que, depois de alguns protestos, acabará por ser absorvido pelo mesmo sistema corrupto de sempre?

Francisco Gonçalves

e-mail: francis.goncalves@gmail.com

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Imagem gerada pelo ChatGPT (c)

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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