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O Impasse Português: Entre a Resignação e a Necessidade de Rutura

O Impasse Português: Entre a Resignação e a Necessidade de Rutura

Portugal vive um paradoxo há 50 anos de democracia: conquistou liberdade política, mas nunca conseguiu transformar essa liberdade em verdadeira autonomia económica e social. O discurso dos “mercados” tornou-se uma desculpa conveniente para justificar o abandono dos mais vulneráveis, o empobrecimento generalizado e a submissão do país a interesses externos. O sistema político, apesar da sua aparência democrática, continua fechado sobre si mesmo, garantindo que a mudança estrutural nunca aconteça.

Os Mercados: A Justificação para o Injustificável

A narrativa dominante responsabiliza os mercados por todas as dificuldades do país. Quando é necessário cortar nas reformas, aumentar impostos ou limitar investimentos públicos, a explicação oficial é sempre a mesma: “as exigências dos mercados”. Essa lógica transformou Portugal numa nação refém de uma economia que serve mais os credores do que os seus próprios cidadãos.

Os efeitos disso são visíveis: idosos abandonados com pensões insuficientes, crianças que passam fome, jovens sem perspetivas de futuro e uma classe média esmagada pelo custo de vida e pela precariedade laboral. Enquanto isso, as elites políticas e económicas continuam a prosperar, garantindo que qualquer transformação profunda seja bloqueada antes mesmo de ser debatida.

O Silêncio dos Inocentes e a Falta de Pensamento Crítico

Um dos grandes problemas do país não é apenas a corrupção ou a falta de visão política, mas sim a passividade da população. Vivemos tempos onde o absurdo se normalizou e onde grande parte dos cidadãos parece resignada. O pensamento crítico é cada vez mais raro, e a capacidade de questionar as narrativas oficiais foi substituída por um conformismo perigoso.

O sistema de ensino não ensina a pensar, apenas a obedecer. Forma licenciados e doutorados, mas não cria indivíduos capazes de analisar a realidade com autonomia. E, sem pensamento crítico, a mudança torna-se impossível.

A Iminência do Colapso Económico: Um Gatilho para a Mudança?

Se Portugal não foi capaz de transformar a sua estrutura económica e social em meio século de democracia, talvez o único fator que possa forçar uma rutura seja um colapso económico mais grave do que os anteriores.

Crises anteriores foram amortecidas por resgates, promessas de reformas e soluções temporárias que apenas adiaram o inevitável. No entanto, um colapso total poderia ser a centelha necessária para despertar um povo que, até agora, tem aceitado o inaceitável.

A grande questão é: quando esse colapso ocorrer, a população estará preparada para exigir uma verdadeira mudança ou cairá novamente na armadilha de soluções fabricadas pelo mesmo sistema?

Uma Mudança de Mentalidade: A Única Revolução Verdadeira

Se a história nos ensina algo, é que nada fica na mesma para sempre. No entanto, a mudança pode seguir caminhos muito distintos. A verdadeira revolução não está apenas na substituição de governantes ou partidos, mas sim na transformação da mentalidade coletiva. Portugal precisa de cidadãos que pensem por si mesmos, que estejam abertos à mudança e que exijam um país diferente.

Sem essa mudança de mentalidade, qualquer transformação política será apenas uma nova versão do mesmo ciclo de promessas vazias e exploração. O futuro de Portugal depende da capacidade do seu povo de despertar para essa realidade antes que o colapso torne tudo ainda mais difícil.

Francisco Gonçalves 

Email: Francis.goncalves@gmail.com 

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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