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A Civilização Ocidental e o Plano de Regressão Religiosa

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No artigo publicado no Observador por José Carlos Fernandes, intitulado “A civilização ocidental e um ambicioso plano de regressão: religião”, expõe-se com clareza um fenómeno cada vez mais visível: a tentativa, por parte da extrema-direita, de recentrar a civilização ocidental em valores religiosos cristãos — ou, mais precisamente, numa leitura retrograda, seletiva e politizada desses valores.

A Fé como Ferramenta de Poder

Não é a fé o que está em causa. A fé é legítima, pessoal, viva. O que está em causa é o seu uso como arma ideológica. A extrema-direita invoca a cruz não para amar o próximo, mas para excluir o diferente. Invoca os Evangelhos não para perdoar, mas para castigar. Evoca Cristo, mas age como César.

“Deixai vir a mim as criancinhas” tornou-se em “deportai as crianças dos outros”.

A Colisão com os Valores Cristãos Reais

A ironia maior é que os líderes espirituais cristãos, como o Papa Francisco, falam hoje de inclusão, compaixão, justiça social, ecologia e respeito pelos migrantes — temas que a extrema-direita abomina. O resultado? Um cristianismo dividido entre o púlpito de Roma e o palanque de populistas europeus e americanos.

Regressão Cultural com Capa de Tradição

Este plano de regressão civilizacional tenta reverter conquistas fundamentais: o direito das mulheres, a liberdade sexual, a separação entre Estado e Igreja. Em nome de uma “tradição” que nunca existiu como eles a contam, querem impor uma ordem social anacrónica — mais inspirada na Idade Média do que nos ensinamentos do Novo Testamento.

O Cristianismo como Muralha

A cruz, símbolo de redenção e entrega, está a ser transformada em muralha ideológica, um bastião identitário onde não há lugar para o diverso. Onde o altar se funde com o púlpito político, e a fé é usada como trincheira cultural. Os discursos sobre “valores ocidentais cristãos” tornaram-se um código para exclusão, conservadorismo extremo e revisionismo histórico.

Uma Palavra de Alerta

O perigo não está apenas nas ideias — está na forma como são embutidas em leis, programas escolares e discursos nacionais. Aos poucos, aquilo que parecia apenas retórica torna-se política pública, legislação, vigilância moral.

E a civilização que tanto se orgulhava da liberdade começa a parecer-se perigosamente com os regimes que dizia combater.

Conclusão

A civilização ocidental não será salva com catecismos reescritos por extremistas. A sua força está na pluralidade, no pensamento livre e na coragem de manter o Estado laico e a fé como espaço íntimo — não como ferramenta de exclusão.

Artigo de Augusto Veritas
A fé não serve para oprimir. Serve para libertar. E quando a usam como grilhão, a civilização degenera em doutrina autoritária.


Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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